terça-feira, julho 17, 2012

NO ESCURINHO DO CINEMA


POR LETÍCIA VIDICA

- Oi, gata! Que tal um chopinho lá no Pedrão hoje? – era Lili que sugeria uma antecipação do nosso sagrado happy hour.

- Valeu, Lili, mas eu ainda tenho que terminar uns relatórios aqui e depois vou pegar um cineminha. – eu dizia ainda enfiada numa pilha de projetos.

- Cineminha?! Nossa, a fila anda mesmo hein. O Pedro nem esfriou e já tem outro na parada? Pode desembuchando. Quem é o bofe? – a típica curiosidade de Lili falava por ela.

- Fila? Que fila, Lili. E não tem bofe nenhum. Eu vou ao cinema sozinha mesmo. Qual o problema? – é, qual é o problema?!

- Fala logo, Diana. Se quiser, eu não conto nem para a Betina. Quem é ele? – insistia minha querida amiga ainda não convencida de que eu ia realmente ao cinema apenas com minha ilustre companhia. – Se não tem ninguém, o que tá pegando? Você tá bem? Tá precisando desabafar? Se quiser, a gente deixa a cervejinha para amanhã e a gente te acompanha no cinema.

- Lili, eu agradeço, mas eu estou ótima. Não me leve a mal. Eu não quero companhia. Eu quero pegar um cinema sozinha mesmo. Podem ir no bar sem mim. Se a sessão não acabar tarde, eu passo lá. – eu respondi querendo me livrar logo da ligação para não me atrasar para a sessão.

- Tem certeza? Olha, quando comprar o ingresso manda uma mensagem dizendo qual é a sala e qualquer coisa me dá um toque no celular hein? Ah e não vai assistir aquelas comédias românticas hein? Você pode sair de lá direto para o divã... – desatou ela a me dar várias orientações como se eu fosse uma adolescente virgem prestes a ter um encontro com um espinhudo da internet.

Depois de eu ter encarado muitos fantasmas comigo mesma antes de decidir ir ao cinema sozinha, ainda tive que convencer a Lili, a Betina(que não convencida pela história da Lili) que também me ligou e, até mesmo, a minha secretária. Gente, qual o problema em ir ao cinema sozinha?! Eu ainda não tinha essa resposta, mas era o que eu queria buscar. Afinal de contas, eu era uma virgem nesse lance de ir ao cinema sem ninguém.

Adiei perder essa virgindade porque, em alguns raros momentos, eu tinha uma companhia masculina para me acompanhar. Em outros momentos nem tão raros assim, eu tinha minhas fiéis escudeiras. E, na maioria dos momentos, eu recorria ao sofá da minha sala onde a minha própria companhia não é tão assustadora.

E assustadora foi a reação de algumas pessoas quando eu decidi que queria me aventurar indo só ao escurinho do cinema. Para alguns, a minha atitude era digna de uma internação no hospício ou assemelhava-se ao suicídio. “Você tá louca?! Vai fazer o que sozinha num cinema?! Não é mais fácil cortar os pulsos?” Já para outros, era uma atitude de total elevação espiritual. “Eu super apoio a sua atitude. Acho que somos autossuficientes e não há mal nenhum em sentar numa sala de cinema e assistir um filme oras.” Dividida, entre opiniões resolvi provar.

Confesso que, durante alguns momentos do dia, pensei em desistir da idéia ou chamar reforço, mas fui dura na queda e parti para o cinema alone.

Uma das coisas que eu temia era em ser o único ser da face da terra que tivesse tido a ilustre idéia de ir a um cinema em plena quinta-feira à noite. Ledo engano, primeiro porque numa cidade como São Paulo, o único lugar onde você fica sozinha é dentro do banheiro da sua casa (isso se você não resolver tomar um banho com alguém).
Assustei-me ao encontrar uma fila considerável na bilheteria. Tudo bem se o mais velho da fila não passasse dos dezesseis anos.

Esqueci completamente que estamos em julho e que pré-adolescentes estão em férias. E qual o melhor lugar do mundo para se divertir nas férias? O cinema!!! E se a sessão
for noturna, é quase uma transgressão.

Tentei me sentir natural em meio àqueles adolescentes cheios de espinhas na cara e não me incomodar com os beijos que os casais à minha frente, nas minhas costas e ao meu lado trocavam. Era mais um sinal de que eu podia ter ficado literalmente para titia solteirona, mas... resolvi não focar nisso naquele momento. Preferi me distrair com os assuntos teenager. Tinha esquecido o quanto era realmente estressante decidir entre fazer o meu niver numa balada ou um churras no sítio.

Naquele momento, bateu uma saudade imensa dos meus tempos de colégio, onde eu ia ao cinema com meus amigos, meus namoradinhos e não me preocupava se no dia seguinte eu tinha algum projeto para entregar, chefe para encarar e blablabla... nossa, parece até que faz um século que vivi isso e nem se passaram 20 anos!!!

Comecei a reparar para ver se tinham outros seres autossuficientes como eu na fila, reparei numa morena que parecia sozinha, mas logo percebi que um bonitão esperava ela do lado de fora da fila. ‘Tudo bem, Diana, aja naturalmente. Respira fundo”. Quando o bilheteiro me chamou e eu disse o nome do filme, prestei bem atenção para saber se a sala estava vazia. Eu ia ver uma comédia nacional e em meio a filmes de ação e outras apostas de hollywood, a possibilidade de eu ser a única na sala era grande. Contei as cadeiras rapidamente e vi que, pelo menos, outros trinta me acompanhariam na sessão.

Ufa!!! Estágio 1 superado. Como ainda faltava quase uma hora para o filme, resolvi comer alguma coisa. Meu estômago dava sinais de que a minha última refeição não tinha deixado mais nenhuma faísca dentro de mim. Enquanto eu esperava a comida, fui surpreendida pela Betina.

- Betina?!

- Eu não acreditei quando a Lili me contou. Você tá bem, lindona? Vai mesmo ao cinema sozinha? – dizia num tom que lembrava o da minha mãe, não sei por quê.

- Betina, eu estou ótima. Gente, eu só quero ir ao cinema sozinha e nada mais. Qual é o problema? – eu estava começando a me irritar com aquela vigilância tola.

- Problema nenhum. Eu, inclusive, já fiz isso muitas vezes e adoro. Agora você ... depois desse rolo todo do Pedro... está mesmo preparada para encarar isso?!

- Fica tranquila. O Pedro não tem nada a ver com essa minha decisão... mas você não vai sair com a Lili? – desbaratinei.

- Vou. É que eu tive que vir resolver uma coisa aqui no shopping e resolvi ver se estava tudo bem com você. Promete que liga para gente quando sair da sessão?

Nossa, da próxima vez, eu vou ao cinema em uma sessão em Marte. Assim vai ser mais difícil a supervisão. Falando em sessão, corri para a sala. Entrei correndo, mas o trailer nem tinha começado. Quando entrei, não tive coragem de encarar as pessoas. Ok que eu seja autossuficiente, mas ainda sentia o peso da recriminação nas costas. Todo mundo entra no cinema com a amiga, o namorado, a turma, a mãe, a sogra e assim vai e eu entrava sozinha.

Sentei no meu lugar e fiquei mexendo no celular para o tempo passar. Nessa hora,
senti falta de uma companhia para jogar papo pro ar assim como as pessoas ao meu redor faziam. Porém, essa solidão repentina durou apenas até o trailer e o filme começarem.

Confesso que, durante a sessão, eu dava umas olhadinhas para o lado para me certificar de que não havia ninguém ao meu lado. Vai que algum fantasminha camarada quisesse bater um papinho né? Apesar da sala ter, pelo menos, umas 50 pessoas, cada uma sentara em um canto e eu me sentia um pouco sozinha demais na minha fileira.

Entrei no clima do filme, engraçadíssimo, por sinal. Era uma comédia romântica feita por homens que tratava de assuntos de mulheres. Eu estava precisando de um pouco de besteirol para me animar e também não tava afim de colocar o tico e teco para pensar naquela noite. Sei que ri como uma doida, às vezes, até um pouco alto demais. Mas e daí? Estava todo mundo rindo mesmo... e, confesso, que em algumas cenas mais românticas deixei meus olhos marejar e foi inevitável não pensar no Pedro ou no Pierre ou no que eu queria para mim ou me imaginar sendo aquela atriz ouvindo tudo aquilo projetada na tela do cinema. Porém, o letreiro subiu e eu esqueci rapidamente de tudo.

O filme passou e eu nem senti tanto assim a solidão. Amei a experiência científica. Na hora de sair, nem liguei se a galera do fundão reparava que eu estava só e não saía comentando o filme com ninguém. Acho que essa é parte chata da solidão da telona. Terminar o filme e não ter com quem comentar ... mas, para isso, a gente recorre às amigas.

Decidi dar uma passadinha no bar do Pedrão. Porém, no meio do caminho enquanto eu pagava o ticket do estacionamento, fui surpreendida. Encontrei o Pierre e a Olívia na fila. Que beleza hein Deus? Tudo que eu mais queria era encontrar o meu ex e a sua esposa para confirmarem a minha solidão.

- Oi, Diana, tudo bem? – dizia Olívia com a sua insuportável simpatia. – Eu disse para o Pierre que era você e ele não quis acreditar...

- Oi, gente, tudo bem? – respondi sem graça – Achei que você já estivesse na maternidade... ainda tá passeando com esse barrigão? – desbaratinei.

- Ela é louca. Nunca vi ter desejo de ir ao cinema antes de parir. Mas e você tá sozinha? O Pedro tá com você? – perguntava Pierre.

Ferrou. O que eu ia dizer? Confessaria que estava sozinha , que era autossuficiente ou inventaria que o Pedro estava no banheiro? Fui salva pelo gongo, ou melhor, pelo caixa que me chamava para pagar o ticket. Paguei, me despedi do casal e ufa! Não respondi a pergunta. Saí do shopping rindo pela cena e feliz pela minha atitude. Fiz uma Diana feliz.

- Diana!!! Que bom que você veio!!! – brindava Lili ao me ver chegar no bar do Pedrão.

- Calma, gente. Eu to viva. Não fui tarada no cinema...infelizmente – eu ria e pedia um chope. – Amei a experiência. Farei mais vezes se querem saber...

- Olha, amiga, eu te admiro. Fiz isso uma vez e não deu certo. Acho que tenho algum problema não diagnosticado. Acredita que eu chorei com filme de ação? – confessava Lili. – Saí de lá para curar uma depressão e peguei outra. Tipo vírus.

- Ah, eu adoro ir ao cinema sozinha. É uma ótima terapia para me fazer relaxar dos processos. Eu apoio. Acho que todo mundo tinha que,pelo menos, uma vez na vida escrever um livro, plantar uma árvore, ter um filho e ir ao cinema sozinha.... – dizia Betina.

- Acho que agora vou arriscar plantar a árvore. – eu ria – A única coisa chata foi encontrar o casa 20 na fila do estacionamento... acredita que o Pierre e a Olívia me flagraram no shopping?

- E aí? E você? Bancou a autossuficiente?

- Fiquei gelada, Lili. Mas ainda bem que na hora que eu ia ser desmascarada o caixa do estacionamento me chamou. Ufa!!! Eu disse que estava preparada para a experiência científica, mas eu não contava com esses aliados me espionando ...

Continuamos a noite rindo e dividindo nossas experiências solitárias.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ FOI AO CINEMA SOZINHA (O)? CONTE COMO FOI A EXPERIÊNCIA.

9 comentários:

Patty disse...

Oi Letícia...
Eu sou dessas que adoraaaa ir ao cinema sozinha. Sinto falta até, pois com companheiro e filhos fica complicado. Faz muito bem sair sozinha de vez enquando. Eu sempre que podia saia pra almoçar, jantar, ir ao cinema, ao teatro sozinha. Se não conseguirmos nos divertir sozinhas, se não conseguirmos nos sentir bem e felizes sozinhas, como é que poderemos exigir que alguém seja conosco??
Qualquer dia eu pego e vou sozinha de novo, pois faz muita falta esse momento. Lembro de diversas vezes nas quais eu estava sozinha sem nada pra fazer em casa, quase meia noite e resolvi ir pro cinema!! Pegar a última sessão mesmo e adorava!!!
Fez bem você e faça mais vezes, pois é uma delícia!
Bjsss

Anônimo disse...

Ainda não, mas pretendo ir um dia!

Mirella Gurgel disse...

Nossa eu adoro ir sozinha ao cinema sozinha... Detesto alguém do meu lado perguntando " o que ele falou ?" mas acho que puxei isso da minha irmã. Ela sempre ia sozinha ao cinema e eu achava bonito, um momento só dela... e comecei a ir tb, mas confesso que é bem chato os outros olhando com aquela cara de espanto, ou aqueles casalzinhos patéticos mais melosos do que mel .. Mas vale a pena sim !!

Poliana disse...

Nunca fui! Mas tenho vontade de ir, só que como a Diana eu tenho medo e acabo amarelando... Só que depois de ler este post vou fazer isso!!

P.S. Amooo seu blog! E estou loucaaa pra ler o próximo post! Bjs *-*

Anônimo disse...

Nossa vc esta demorando muito pro novo post, já faz uma semaaaana pfv publique logo algo

Anônimo disse...

Adoro seu blog!! Quero saber como vai ficar a história com o Pedro! Bjs

Anônimo disse...

http://prixviagragenerique50mg.net/ viagra achat
http://prezzoviagraitalia.net/ comprare viagra
http://precioviagraespana.net/ viagra

Ana Cláudia Marques disse...

"Zilhões" de vezes, ué (RISO)!

Anônimo disse...

Nossa um amigo meu que fiz amizade no trabalho por temporada . Quando saiu por tempo aí foi receber . Eu Tava pensando direto nele pela manhã . Ele é um ótimo amigo conversávamos muito . Brincávamos muito. Aí quando ele foi receber eu disse : vai receber dividi com os amigos , eu vim buscar . O gerente muito amigo nosso disse :ele tem esposa .eu disse amigos amigos esposa a parte. Aí este amigo falou : se quiser a gente dividi "no escurinho de cinema " sabe como é ne ?
Aí ele entrou na sala do gente é eu fiquei tomando água que é do lado da porta gerente e um espelho de frente. Quando ele saiu eu Tava me olhando pelo espelho e tomando água. Aí eu vi ele me olhou da cabeça ao bumbum estava de shortinho .aí oulhu pro meu rosto pelo espelho que eu Tava de costa com ele .eita ta se arrumando ne? ! É. Ta mim seguindo é? Eu não . Quando ia saindo comentou com os meninos sobe que eu pedi pra dividir o dinheiro brincando . Aí virou -se pra mim e disse : topa ? Amanhã lá em casa só eu e vc á noite , aí a gente ver o que tem pra dividir. Agora já sabe ne , no escurinho de cinema rola tudo ne .?! Aí nos despedimos ele foi embora é nunca mais saiu de minha memória. Ah quando Tava trabalhando cheguei bem arrumada aí o outro rapaz disse eita como ela ta arrumada . Aí ele disse : ta arrumada como caqueira .aí desse dia em diante me chamava e quando me ver , me chama de caqueira ! Só em lembrar , aí da vontade de repetir voltar o tempo , da vontade de abraça-lo e beija -lo como sempre deu vontade .