segunda-feira, junho 11, 2012

DESPEDIDA DE SOLTEIRO



POR LETÍCIA VIDICA


- Ué, Lili, você não ia sair com o Tavinho hoje? – eu perguntava enquanto tomávamos nosso choppinho de todas as sextas.

- Vocês não vão acreditar. O Tavinho foi numa despedida de solteiro...

- E qual o problema nisso? Quem sabe assim ele não toma juízo e casa logo com você – brincava Betina.

- Tô falando sério, gente. A despedida de solteiro é do Pierre. Acreditam que ele teve a cara de pau de convidar o Luis Otávio para o casamento?

Engasguei com o chopp e a coxinha.

- E desde quando eles são amigos? – assustou-se Betina também.

- Eles andaram se encontrando numas baladas aí.

- E quando ele vai casar? – perguntei rapidamente esperando o golpe mortal.

- Semana que vem. Mas, fica tranqüila, que eu não vou e nem vou deixar o Tavinho ir.

- Duvido que ele não vai. Ele já sabe disso?

- Bem, Betina... ele disse que vai mesmo sem mim.

- E claro que você vai, Lili. – eu dizia. Era essencial ter um aliado no território inimigo.

Terminamos a noite bolando planos infalíveis e, até engraçados, sobre como espionar o casamento do Pierre com a Olívia Palito.

***

Acordei no meio da madrugada com a impressão de quem alguém berrava meu nome. Achei que era apenas um sonho, mas o eco estava cada vez mais forte. Foi quando meu interfone tocou e o Seu José, o porteiro, confirmou a minha desconfiança. O Pierre era quem berrava na portaria do prédio. Desci num pé só, ainda bêbada de sono.

- Você ficou louco agora? Quer que eu seja despejada? – dizia irritada para o Pierre que estava visivelmente bêbado e cercado pelos amigos que pareciam impedir aquela cena patética.

- Diana, eu preciso falar com você...deixa eu subir!! – ele dizia tentando se desvencilhar dos braços do Digão e tentando me agarrar.

- Desculpa, Diana. Não deu para impedir. – dizia Digão – Ele insistiu muito e, antes que ele enfiasse a cara no poste, a gente teve que acompanhar.

- E onde ele estava? – perguntei preocupada.

Todos se entreolharam tomando coragem. Quem seria o primeiro a confessar que aquela era uma das últimas noites de solteiro dele?

- Olha, antes que eu vire assunto na próxima reunião de condomínio, me ajudem a levá-lo lá pra cima.

Os meninos me ajudaram a levar o Pierre até o meu apartamento e fiz todos prometerem que, assim que amanhecesse, alguém viria buscá-lo.

- Diana, eu quero você. Fica comigo. Eu te amo... – ele dizia entre um soluço e outro e um trançar das pernas.

- Pierre, tudo que você precisa agora é de um banho , cama e café forte.

Depois do banho, o Pierre desabou na minha cama. Fiquei olhando para ele sem acreditar naquela cena. Eu não acredito que eu salvei a bebedeira do meu ex-namorado na despedida de solteiro dele e que ele vai acabar essa noite aqui na minha cama!!! Não é possível. Só pode ser carma. Fiquei olhando o Pierre dormir feito um bebê e, antes que eu resolvesse deixar o tesão falar por mim e tará-lo ali mesmo, peguei um cobertor e fui dormir na sala.

***

Acordei com o Pierre sentado na minha frente com uma xícara de café.

- Pierre?! Que horas são?

- Toma, fiz para você! É o meu pedido de desculpas pelo papelão de ontem à noite. Não sei o que eu disse, o que eu fiz, como eu vim parar aqui...mas sei que caí em boas mãos.

- Você não se lembra de nada mesmo? – confirmei.

- Nadinha!

- Que pena! – ironizei. – Quer que eu refresque a sua memória?

Ao sinal positivo, contei sobre o papelão que ele aprontou na porta do meu prédio e como eu curei a bebedeira dele.

- Diana, me desculpe! Eu estou sempre te metendo em confusão né? – assumia ele sem jeito e mexendo nos cabelos, como sempre fazia quando ficava nervoso e sem-graça por algo.

- Digamos que sim. – oras, eu tinha que dizer a verdade (ando trabalhando com a sinceridade)

- Eu não queria que soubesse dessa maneira, mas eu me caso semana que vem. Não teve jeito. Mas você bem sabe que se você piscar, eu volto correndo.

Abaixei a cabeça sem graça (por quanto tempo quis ouvir isso, mas agora não surte efeito).

- Mesmo que eu piscasse, Pierre, as coisas não são mais tão simples assim. Existe um filho entre nós agora. Duas vidas que dependem de você.

- Eu sei disso, mas eu também não acho justo me enganar. Eu sei que não sou o cara que você pensou que eu fosse um dia... sou confuso, inconstante... te traí... mas você não pode duvidar de uma coisa... eu te amei muito, acho que ainda amo... mas não posso estragar a sua vida como fiz com a minha. Talvez ficar com o Pedro seja a melhor coisa que você faz da sua vida.

Pela primeira vez, ouvi algo sensato da boca do Pierre. Não é que a paternidade muda mesmo as pessoas? Ele se aproximou de mim, pegou nas minhas mãos, fomos nos aproximando e deixei me levar. Nos beijamos. Não me perguntem como e nem onde, só sei que transamos. Ok, ok... podem me fuzilar. Isso não significa que eu ainda goste dele, mas significa que é coisa de pele. Eu não consigo controlar os meus instintos quando ele se aproxima. Porém, fomos chamados à realidade,quando o celular dele tocou e percebi que era a Olívia.

Pierre foi para a sacada e pude ouvi-lo dizendo que já estava chegando em casa. Me senti péssima. A que ponto eu cheguei? De namorada a amante? Não podia ser assim.

- Adorei te ver, Diana. – ele disse tentando me dar mais um beijo, mas me esquivei enrolada no lençol.

- Acabou, Pierre. De verdade, acabou. Isso não está certo. Vai para sua casa, volta para Olívia.

- Mas... eu achei...

- Mas nada e não ache nada. Seja muito feliz ou, pelo menos, faça essa criança e a Olívia feliz ok?

Virei as costas e fui para o chuveiro. Quando saí, ele não estava mais lá. Eu, obviamente, caí em prantos no sofá da sala.

***

Depois do pranto, caí no sono. Afinal, eu nem tinha dormido direito na noite passada. Na melhor parte do sono, fui acordada (novamente) pelo Seu José, o porteiro. Meu coração gelou quando ele disse que a Olívia estava lá embaixo. ‘Minha Nossa Senhora, o que ela quer?’

- Oi, Olívia!

- Posso entrar?

Mesmo que eu dissesse não, aquela barriga de oito meses já estava praticamente na minha cozinha. Pedi que ela sentasse, ofereci uma água, mas ela não quis nada. Era visível que tanto eu quanto ela estávamos nervosas. Pela primeira vez, a gente se encarava assim – a sós – e frente a frente. Depois de um silêncio mortal, ela desandou a falar.

- Eu vim aqui porque sei que o Pierre veio te procurar. Sei que ele passou a noite aqui.

Gelei. Pronto. Agora, ela ia sacar uma arma e me matar. Já vi isso em vários filmes. Mas, peraí, como ela sabia disso?

- Ninguém me contou nada. Eu segui o Pierre... a noite toda.

- Seguiu? Como assim? Com essa barriga? – essa mulher só pode ser louca.

- Eu vi quando ele veio berrar na porta do seu prédio. Vi o quanto ele gosta de você ainda. Adoraria que ele gostasse de mim
desse jeito. Eu sei que ele só vai ficar comigo por causa da criança...

- E você quer ele mesmo assim? – gente, cadê a auto-estima dessa mulher?!

- Eu não quero ficar sozinha. Eu só vim aqui para dizer que eu nunca tirei o Pierre de você. Aconteceu. Ele sempre foi muito claro. Sempre disse que te amava, que você é a mulher da vida dele, mas que ele jamais será o seu homem...

Eu estava passada. Ele disse tudo isso mesmo ou ela está blefando?

- Eu não estou te entendendo, Olivia. Se você sabe de tudo isso porque veio até aqui?

- Eu queria ouvir da sua boca se você ainda quer o Pierre. Se você quiser, eu termino tudo com ele. Mas se não quiser, eu vou lutar para fazê-lo o homem mais feliz do mundo.

Que sinuca de bico!!! Quanta pressão!!! O que eu ia dizer para uma mulher enlouquecida de amor, prestes a ter um filho, a uma semana do casamento?! Eu não podia simplesmente dizer ‘pára tudo’. Confesso que fui surpreendida novamente.

- Olívia, nem sei o que dizer. Mas já que está sendo sincera comigo, eu serei com você. Eu gostei muito do Pierre sim. Lutei para que a gente desse certo, mas eu não posso suportar a indecisão e a incostância dele. Já basta eu. Eu sou uma mulher que preciso de um porto seguro. E, graças a Deus, eu encontrei isso no Pedro. Essa noite, com o Pierre aqui, vi que entre a gente é coisa de pele. Ele está realmente longe de me dar tudo que eu sempre quis. Olívia, o caminho está livre para você. E faça isso. Faça ele muito feliz.

Olívia levantou e me deu um abraço. Incrivelmente, verdadeiro. E eu me senti mais aliviada. Não ia poder suportar o peso de uma vida por destruir uma família que nem começou.

***

- Eu estou PAS- SA – DA!! Como assim você foi a despedida de solteiro do Pierre e ainda virou amiguinha da Olívia?!! Diana, a sua vida tá melhor que a novela das nove. – dizia Lili.

- Nem eu acredito no que eu fiz e no que eu passei. Mas eu estou bem mais aliviada.

- Atitude nobre, amiga. Nem eu sei se seria capaz. – aplaudia Betina.

- Vocês queriam que eu fizesse o quê?

-Eu só quero saber se esse lance de coisa de pele é verdade ou é história para boi dormir.

- Não, Lili, é verdade. Quando eu vi o Pierre aqui todinho para mim, deitado na minha cama, fiquei excitada na hora. Um tesão
enlouquecedor. Mas depois que a gente transou, eu não senti aquela vontade de antes de ficar com ele para a vida inteira.
Passou!

- Tô de queixo caído!!! E que mulher de atitude essa Olívia não? – dizia Lilia

- Atitude?! Para mim, isso é obsessão. Rodar a madrugada inteira atrás do Pierre? E se ela parisse no meio do caminho?

- Se ela parisse, você seria a madrinha, minha amiga!!! – alfinetava Betina

Rimos para não chorar.

PAPO DE CALCINHA: O QUE VOCÊ FARIA NO LUGAR DA DIANA? APOIARIA O CASÓRIO? IA CURAR A BEBEDEIRA DELE? SE ALGUMA SITUAÇÃO PARECIDA JÁ TE ACONTECEU, DIVIDA COM A GENTE!!! :>)

3 comentários:

Mirella Gurgel disse...

Nossa Di, que situação hein , meu Deus !! Realmente seguir o cara na despedida de solteiro é meio obsessão, qualquer mulher sabe que vai rolar uma putaria ou um remember com alguma ex. Mas acho que foi bom sabia, pois vc percebeu que AGORA gosta mesmo é do Pedro, e tem que lutar por ele, não vai viver na indecisão de que talvez poderia ter dado certo com o Pierre se esse encontro não tivesse acontecido. Tudo tem seu lado bom, com certeza !

Unknown disse...

Parabéns pra Diana! Parece que finalmente ela está começando a entender seus sentimentos e expectativas!

Ana Cláudia Marques disse...

Pois eu no lugar dela não receberia o Pierre de jeito nenhum. Diria com todas as letras que não era parte da despedida de solteiro dele, e mandava o Digão levá-lo para curar a carraspana na própria casa. Ponto.😠