quarta-feira, maio 23, 2012

HOMEM ENIGMA: DECIFRA-ME SE FOR CAPAZ


POR LETÍCIA VIDICA



“... aqui está tudo bem. Quero que aproveite muito por aí também e..., para ser sincero, não acho justo te fazer esperar por mim. Vamos levando e quando eu voltar a gente resolve. Mas promete que vai ser feliz????? Saudades de quem te quer bem...”




-... Pedro – terminei de ler o email ainda pasma assim como as caras das minhas duas amigas que prestavam atenção ao que eu acabara de ler – e então? Ainda tem coragem de dizer que isso não é um fora?


- Ah, Di, veja pelo lado positivo ... – lá vinha Lili com sua positividade – ele não te deu um fora...foi até romântico... te desejou saudades!!!


- É, Diana, eu não vejo porque tanto estresse. O Pedro foi um cara sensato, como sempre. Não é justo te deixar aqui plantada esperando por um cara que ninguém sabe quando volta e se volta... – completava Betina.

- Gente, eu chamei vocês aqui hoje para serem sinceras comigo. Podem pegar pesado. Admitam!!! Eu levei um fora do Pedro. – eu dizia me jogando desconsolada no sofá.

- Eu não diria que isso é um fora e sim uma oportunidade. Aproveita, boba. Se joga no mundo!! Fica aí choramingando... vai que o Pedro nem é o cara da sua vida?

- A Lili está certa. Você não estava aí se questionando se gostava ou não do Pedro? Chegou a hora de saber.

- Bela ajuda hein? – eu respondia querendo acreditar que ainda não falávamos a mesma língua – mas o que foi esse ‘quando eu voltar a gente resolve’? quer dizer então que ele nem pensa em voltar? Ou pior, se pensa, já planeja como admitir que tudo acabou.

Passamos a noite matutando para desvendar a mensagem subliminar que existia por trás do email do Pedro. Ou melhor, eu tentei desvendar porque as minhas amigas tentavam me convencer de que era piração minha e eu devia (mais uma vez) dar a volta por cima e seguir em frente.

***

Uma semana depois daquele email e da sessão caça ao tesouro, resolvi passar na casa dos meus pais para dizer que estava viva. Enquanto descia do carro, fui atropelada pela minha ex-futura-atual sogra que chegava do mercado e não se conteve ao me ver.

- Minha linda, que bom te ver!!! Você não morre mais. Hoje mesmo falei de você...

- Oi!! – respondi ainda assustada com a abordagem – falou de mim com quem?

- E com quem mais poderia ser? Com o Pedro!

Tentei conter a excitação e alegria em saber que o Pedro ainda falava de mim ... e, ainda por cima, com a mãe. Era sinal de que alguma importância eu deveria ter. Bastava saber qual seria.

- Não fala que eu te contei, mas ele está morrendo de saudades de você!!! – sussurrava a sogrinha no meu ouvido.

- Ele disse isso mesmo? – perguntei ainda desacreditada como se um flash back acontecesse naquele momento e eu me visse de frente àquele email da semana passada que dizia que eu tinha que ser feliz e depois a gente ia resolver tudo. Onde entrava a saudade nisso?

- Claro!!! Se eu fosse você, ia lá fazer uma visitinha surpresa para ele... aposto que ele ia adorar. – agora ela atacava de cupido.

- Que isso! É loucura. O Pedro me odiaria por toda a vida se eu fizesse isso. E a senhora sabe que a gente deu um tempo né?

- Bobagem, garota!!! Tempo só na sua cabeça porque o Pedro não vê a hora de voltar para ficar com você. Agora deixa eu entrar antes que meu marido venha me procurar. Você sabe que eu gosto muito de você e torço para que dê certo ne? Conte comigo viu? E, ah, segredinho nosso!!! – ela me deu um beijo na bochecha e me deixou pasmada e parada frente ao portão da casa dos meus pais.

Para o mundo que eu quero descer!! Será que é verdade tudo isso que eu acabei de ouvir? O Pedro está mesmo com saudades minhas e quer voltar? Não pode ser. Aposto que é jogada da mãe dele. Mas por que ela mentiria pra mim? E por que ele não foi sincero comigo naquele email se sentia tudo isso? Antes que minha cabeça fundisse, fui flagrada pelo meu pai que tinha saído na garagem para colocar o lixo para fora.

- Aconteceu alguma coisa, Diana? Estou te achando muito dispersa, filha. – dizia minha mãe enquanto arrumávamos a mesa para o jantar.

- Nada demais, mãe. – eu não queria preocupa-la com esse assunto, mas mãe a gente não engana.

- É o Pedro não é?

- Como você sabe? ... é ele sim. Encontrei a mãe dele lá no portão...

- Eu sabia. Ontem ela passou aqui e disse que o Pedro não vê a hora de voltar para te ver ... quis até que eu ajudasse a unir vocês, mas eu prefiro não me meter.

Atitude sensata a da minha mãe.

- Eu não consigo entender por que ele diz que está com saudades de mim para todo mundo, mas não declara isso para mim? Eu escrevi um email praticamente me humilhando para ele, abrindo o meu coração e ele só me responde dizendo que eu não tenho que esperá-lo .... que não é justo...poxa, quem tem que saber o que é justo ou não sou eu!! Estou errada mãe? Não consigo entender os homens. – eu desabafava já com os olhos cheios de lágrima.

- Não tente nos entender, filha. – era meu pai que ouvia a conversa sorrateiramente e agora acariciava minha cabeça. – O Pedro teve uma atitude admirável. Pense nisso. Ele é um grande homem. Que homem deixaria uma mulher como você solta por aí correndo o risco de perdê-la para sempre? E só para te dar o direito de ser feliz?

- Eu não sou tudo isso, pai. E não venha defendendo o Pedro !!! – eu relutava.

- Seu pai está certo, Diana. Vocês nunca serão felizes enquanto o fantasma do Pierre viver entre vocês. Aproveita esse tempo e
viva, filha!!! Aproveite o tempo que a vida te deu. Eu também acho que você precisa respirar um pouco sozinha para colocar as coisas no lugar... O Pedro vai voltar e tudo vai ficar bem.

Será que tudo vai ficar bem mesmo? Foi o que me questionei enquanto voltava para casa. Entre um farol e outro, resolvi entrar no meu Facebook e me deparei com um clipe postado pelo Pedro na minha página inicial. Era a minha música favorita de uma banda inglesa que nós dois gostamos. Seria lindo se ele não tivesse enviado justamente a música que eu considero a mais triste e que sempre brincava que era a mais triste e linda forma de amor de dizer adeus. A música dizia que ‘pessoas vem e pessoas vão e é preciso deixa-las sair pela mesma linda porta que entraram para que possam retornar um dia pelo mesmo caminho’. Pedro postou o vídeo e apenas escreveu: ouvi isso hoje no rádio e me fez lembrar de você.

Mais um enigma de Pedro para desvendar: ele lembrou de mim porque eu sempre comento da música ou havia um pouco de indireta para mim naquela mensagem? Seria a mais triste e linda forma de amor que ele encontrou para me dizer adeus?



PAPO DE CALCINHA: AMIGA, VOCÊ ACHA QUE OS HOMENS SÃO ENIGMÁTICOS?

terça-feira, maio 01, 2012

SANTAS CASAMENTEIRAS


POR LETÍCIA VIDICA

- Diana, tá tudo bem, filha? – perguntava minha mãe em tom professoral e um quê de Sherlock Holmes em pleno almoço de domingo com a família. Senti que tinha um cheiro estranho no ar.

- Eu estou ótima, mãe. – respondi secamente e coloquei a macarronada guela abaixo para evitar mais comentários. - Tem tido alguma notícia do Pedro? Do Pierre? – perguntava meu pai.

Alguma coisa estava errada. Meu pai nunca pareceu se interessar muito pelos meus relacionamentos e por que da curiosidade?

- A mana deu sumiço nos caras, né, paizão!!! – declarava o intrometido do meu irmão que chegava atrasado para o almoço e já ia sentando na mesa e querendo pegar a janelinha do bonde.

- Filha, você não acha que esse seu jeito assim... assim... meio independente ... dona de si... assusta os homens? Eles tem medo de mulher assim...estou falando isso porque no meu tempo...

Enquanto o meu pai desatou a falar do tempo dele, eu tentava não morrer sufocada com o refrigerante que tinha engasgado na minha garganta depois do comentário dele. Para o mundo que eu quero descer, ou melhor, eu quero fugir! Então quer dizer que agora a culpa de eu estar sozinha e dos homens se afastarem de mim é minha?

- Agora eu estou entendendo vocês. Quer dizer então que estão me chamando de encalhada e que a culpa é minha pelas cachorradas do Pierre e pelo sumiço do Pedro?

- Calma, Diana. Não é isso. A gente só quis dizer que ... vai ver você anda durona demais né? O que o Pierre fez não tem perdão, mas se você tivesse sido mais flexível com ele... o Pedro é um anjo... e mesmo assim desapareceu... – desabafava a minha mãe.

Resolvi me calar porque seu eu respondesse o que eu estava pensando ia fazer não só todos engasgarem como eu perderia minha família inteira. Depois do almoço, enquanto ajudava minha mãe com as louças, achando que o pior já tinha passado, fui bombardeada novamente...

- Filha, lembra da Marilda, aquela minha amiga do clube de costura?

- Marilda? Aquela que tinha a verruga no nariz? Sei...

- Encontrei com ela no supermercado outro dia e ela estava com o filho dela...lembra dele?

- Aquele menino chato que vinha aqui em casa e quebrava minhas bonecas?

- O João Eduardo. Esse mesmo. Tá um moço lindo. Você precisa ver. Formado, advogado e sem namorada viu? - Que sorte a dele né, mãe?

- Claro que eu falei de você para ele né? Daí, ele pediu para você adicionar ele nessa coisa aí na internet que vocês se falam...

Quase quebrei um prato. A minha mãe estava bancando a santa casamenteira e, ainda por cima, estava moderna. Não tem coisa pior no mundo do que os outros te ajudando a te desencalhar e te indicando namoradinhos. Pior ainda se o santo for a sua mãe.

- Mae, eu agradeço, mas eu estou bem ok? Não se preocupe e, por favor, para de fazer promessas e de empurrar para os filhinhos das suas amigas caquéticas.

- Ai, Diana, eu só quis ajudar. – dizia minha mãe bancando a dramática.


- Ai, Diana, como você é insensível!! A sua mãe só queria te ajudar. Precisava ser tão grossa assim? – essa era Lili que defendia a minha pobre mãezinha da minha ofensa.

- O problema não é me ajudar... é me empurrar! – eu relatava (puta) para as minhas amigas a pressão que eu tinha sofrido pela minha família no almoço da semana anterior.

- Mas e aí o bonitão te adicionou no Facebook? – perguntava Betina.

- Não só me adicionou como não para de me mandar mensagens e agora deu para querer marcar um encontro...eu??? sair com o destruidor de bonecas??? NUNCA!!!

Betina e Lili começaram a rir do meu desespero mas, de repente, também se olharam desesperadas quando fomos interrompidas por um homem, até então desconhecido para mim, que chegava esbaforido, tirando o casaco e sentando na nossa mesa pedindo desculpas pelo atraso. Atraso de que? Ou de quem? Alguém pode me atualizar?

- Oi, Sérgio, tudo – tudo bem? – dizia Betina um pouco trêmula e suspeita.

– Essa é a Diana... – terminava a frase apontando para mim e entonando o meu nome como se ele já tivesse sido dito anteriormente àquele desconhecido.

- Diana, muito prazer e mil desculpas pelo meu atraso.

- Que isso! Eu estou até surpresa... você está no lucro. Eu nem sabia que você viria. Então não se atrasou, né, meninas? – eu dizia desvencilhando as minhas mãos dos lábios molhados dele e fuzilando as meninas com meu olhar de ódio e já pressentindo que algo não cheirava bem por ali.

- Faço questão de pagar o meu atraso...garçom, por favor, uma bebida para as damas.

Enquanto o garçom trazia as bebidas, o tal do Sergio foi ao banheiro abrindo uma brecha para que eu matasse as minhas amigas.

- Alguém pode me explicar o que isso significa? Quem é esse Sergio?

As duas ficaram mudas e tomando coragem para ver quem me contaria primeiro. Ameacei ir embora e rapidamente desataram a falar.

- Diana, o Sergio é o meu novo assistente lá do escritório. Ele não é uma gracinha? Outro dia, ele comentou que estava sozinho e tals...e daí por que não apresentar para ele uma garota legal?

- E a garota legal sou eu???

- Digamos que sim. – dizia Betina com aquele tom de calmaria que sempre prenunciava a minha fúria.

- Vocês só podem estar loucas né? Eu estava agora mesmo me lamentando e declarando que eu odeio essa história de me empurrar, me indicar homem e vocês fazem o mesmo?! Eu não acredito. Isso é traição e das grandes. – bufei

- Calma, Diana. A idéia foi minha. A gente só queria ajudar... – confessava a cupido da Lili

– Você andava aí toda tristonha, mal amada... uma diversão não faz mal a ninguém né?

- E daí vocês armam na minhas costas?

Antes que eu ameaçasse ir embora, o tal do assistente voltou para a mesa. Nossas bebidas chegaram e a Betina e Lili tentaram amenizar o climão que eu tinha causado. O cara até que parecia legal, educado, inteligente... mas só de pensar no fato de que ele poderia achar que eu era uma encalhada que precisava das amigas para ajudar diminuía em zero as minhas pretensões com ele.

Ao final do encontro não programado, Sergio me ofereceu uma carona e, sob os olhares fuzilantes das minhas cúpidas, eu aceitei. Ao chegar na porta do meu prédio, educadamente, ofereci que ele subisse, ao contrário do que eu pensei, ele aceitou.

- A Dra. Betina fala muito da senhora... são bem amigas né? – dizia Sergio enquanto bebíamos uma cerveja na varanda.

- Não precisa ser tão formal comigo. Eu e a Betina somos muito amigas sim. Ela é minha amiga meio mãe sabe? E o que ela andou dizendo de mim para você? Pode dizer...segredinho nosso.

Eu estava doida para saber se eu tinha sido descrita como encalhada, mal amada e traída. Mas Sergio acabara de me confessar que minha lindíssima amiga só tinha exaltado as minhas melhores qualidades e nem tinha tocado no assunto sobre Pedro ou Pierre. Me senti tao culpada naquele momento...

- E você? Solteiro mesmo?

- É, entrei para o time dos solteiros recentemente. Fui casado por dez anos e sem mais nem menos ela simplesmente não me amava mais.

Éramos almas gêmeas. Duas almas abandonadas da noite para o dia. Acho que ouvi os sinos tocarem, mas logo eles silenciaram porque o Sergio começou a ter uma crise de choro na minha varanda. Desatou a falar da ex-mulher, dos seus sentimentos, da sua solidão e de todos os seus problemas... mais de duas horas ouvindo e ouvindo.

Quando a esmola é demais , o santo desconfia. O novo solteiro era um problemático que precisava de terapia, mas eu fiz publicidade. Inventei uma desculpa e, com muito custo, enxotei ele da minha varanda e da minha vida.

- Betina, eu mato você! – eu dizia enquanto Betina se divertia com a história.

– E você ri??? Homem bonito, inteligente e solteiro hoje em dia, se estiver disponível tem que ter algum problema. Eu sabia... Por isso que eu digo que eu odeio amor por QI. Sempre dá merda.

- Da próxima vez, prometo que vou me aprofundar melhor na vida sentimental dos meus assistentes. – ria Betina

- Não precisa se preocupar porque eu não vou mais aceitar os currículos que você anda me indicando, mocinha.

- E o destruidor de bonecas?

Quando eu ia contar sobre o filho da vizinha berruguenta, meu telefone tocou. Adivinha quem era? O destruidor de bonecas. Ele tinha conseguido o meu telefone com a minha querida mãezinha e confessava que estava de plantão na porta do meu prédio para me levar para jantar.


- E agora, Betina, o que eu faço? - Calma, Diana. Ele não deve mais destruir bonecas...

- O problema é se ele for destruidor de corações agora... - Só provando para crer amiga... E eu? Resolvi ver. Aceitei o convite para o jantar e embarquei em mais um casinho por QI. O que deu? Conto na próxima!


PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SE DEU BEM EM ALGUM AMOR POR Q.I. OU GOSTA DE BANCAR A SANTA CASAMENTEIRA?