quinta-feira, setembro 30, 2010

SOLTEIRO SEM DINHEIRO


Por Letícia Vidica

Ficar solteira tem seu lado bom, mas vamos combinar que também tem algumas desvantagens. Não só emocionais como financeiras. Ficar solteira é sinônimo de prejuízo – pelo menos para nós mulheres (aos homens se aplica a regra inversa).

- Vamos para onde hoje, meninas? – perguntava Lili empolgadíssima e pronta para balada.

- Eu só estou indo do quarto para sala – eu respondia ao checar minha conta bancária no internet banking.

- Ah, gente, vamos ficar em casa?!

- Eu, pelo menos, vou, Lili. Tô lisa. Mal tenho dinheiro para comprar o pão de amanhã.

- E o cartão de crédito?

- Tá estourado.

- E o limite do banco?

- Já estou no limite do limite. Nessas horas até sinto saudades do Pierre...

- Lá vem você metendo homem na conversa – resmungava Betina que ouvia nossa conversa enquanto fumava na varanda.

- É, sério, gente. Quando eu estava com o Pierre, eu mal abria a minha carteira. Ele ficava furiosíssimo se eu quisesse pagar a conta... e o pior é que a besta aqui insistia em dividir...direitos iguais. Que besteira! Devia era ter feito uma poupança para quando ele me desse um pé na bunda.

- Não, exagera, Diana. Eu pago para você. Depois você me acerta. – dizia Lili, a endinheirada da turma. Eu até me esquecia que para ela dinheiro não era problema.

Uma das coisas boas é ter amigas. Elas sempre te ajudam quando você está na pindaíba. E, o melhor de tudo, não te cobram nunca. É uma dívida eterna. Uma mão lavando a outra.

Apesar de eu ter amigas para me socorrer nos desesperos financeiros, nem sempre me sinto à vontade de recorrer a esse meio. Ás vezes, prefiro inventar outra desculpa a sempre ter que pedir emprestado. “Ah, hoje eu não estou afim”, “Estou com dor de cabeças”, “Já tinha outro compromisso” e assim vai.

Ficar solteira e na caça de um príncipe é investimento e prejuízo dobrado. A gente gasta para arrumar o cabelo e fazer as unhas no salão para ficar bonita para conseguir um peixe. A gente gasta para comprar aquele vestido que você namorou a semana inteira e vai combinar perfeitamente com a balada. A gente gasta para abastecer o carro, para pagar o estacionamento, para pagar a entrada da balada, para pagar as bebidas, os aperitivos...e em alguns casos até o motel do fim de noite. Não há conta bancária que agüente.

- Definitivamente, vou dar um tempo nas baladas. Olha só esse rombo na minha conta e no cartão de crédito?! – eu choramingava ao abrir o meu extrato bancário e a fatura do cartão– Como eu pude gastar tanto assim?

- Realmente, acho que a gente tem saído demais. Eu também vou ter que dar uma maneirada ainda mais agora que estou querendo ir para Europa nas férias. – planejava Betina.

- E eu? Vou sair sozinha? Ah, não. Eu protesto.

- Protesta o quê, Lili? E você vai pagar as nossas contas, por um acaso? – gritava Betina inconformada.

- Ai, que saudades do Pierre...que tempo bom que não volta nunca mais.

- Pelo menos, você tem um tempo bom para se lembrar. Pior sou eu que só pego pé rapado e sempre divido a conta. Se bem, que eu me nego a ser bancada. – dizia Betina

- Por isso, fica aí choramingando que não tem dinheiro para viajar para Europa. Acho que vou ligar pro Pierre...

- Falando nisso, o Otávio foi lá em casa ontem...me pedir uma grana emprestada...

- Até quando você vai ficar bancando aquele pé rapado, Lili? Você, uma donzela, rica de berço... ao invés de arrumar um herdeiro vai ficar bancando assalariado?!

Esse tipo de discussão entre amor e dinheiro quase sempre era longa. Mesmo sendo amigas, nossa situação financeira é bem diferente. A Lili não tem noção do que é dinheiro. Ela nunca precisou correr atrás dele, ela tem ele! A Betina é dona do próprio negócio, ótima administradora, mas às vezes passa por uma maré brava. E eu, assalariada, dependo do meu mísero salário no fim do mês que nunca dá para pagar todas as contas que despencam na minha cabeça. Por isso, essa minha insistência em não ficar sozinha e ter alguém RICO, RICO, tá me ouvindo Deus?

***

- Que tal um filminho e uma pipoquinha hoje, meninas? – dizia Betina com uma voz angelical nada típica.

- Eu acho ótimo. – concordei prontamente sem ter que assumir que não tinha dinheiro para mais uma balada.

- Ah, tá bom. – incrivelmente até Lili concordou com o programinha caseiro.

Quando isso acontecia, uma coisa era certa. Estávamos duras. Ninguém admitia muito, mas todas nós sabíamos que estávamos na mesma lama. E era bem legal porque a gente curtia juntas e nos divertíamos da mesma forma.

Essa é mais uma vantagem. Ter amigas que também ficam na pindaíba como você e até nisso são unidas.

- Nossa, eu ia adorar uma pizza e uma cervejinha agora hein? – dizia Lili com água na boca.

- Ai, meninas, a pipoca tá uma delícia...- disfarçava Betina.

- Eu também acho. – concordava.

- Já sei...estamos lisas né? – questionava Lili.

Imediatamente nos olhávamos e ríamos admitindo a nossa dureza. Daí, a gente juntava nossas moedinhas, víamos quem tinha mais limite no cartão e no banco. E com a grana da vaquinha a gente comprava uns aperitivos para comer e ficarmos numa boa.

Mesmo curtindo esses momentos, admito que minha conta continua no vermelho e, se você souber de alguém para me deixar no azul, pede para passar lá em casa...antes que eu tenha que ligar para o Pierre.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ TAMBÉM ACHA QUE FICAR SOLTEIRO (A) É SINAL DE PREJUÍZO? COMO FAZ PARA DRIBLAR A 'GASTANÇA'?

segunda-feira, setembro 06, 2010

TÔ CARENTE


Por Letícia Vidica

- Ih, Diana, que cara é essa? – perguntava Lili ao me ver vestida de moleton, meia, chinelo e deitada no meu sofá numa noite quente de sábado.

- Tô carente! – eu confessava.

Eu estava passando por mais uma daquelas fases de carência afetiva incuráveis. Daquelas bem bravas que nem um brigadeiro de panela e o filme Titanic estavam curando.

- Ninguém me ama, ninguém me quer.

- Mas achei que você ainda estava com aquele gatinho...

- Que nada! Sumiu. Como todos os outros. Já olhei na minha agenda do celular e vi que estou super desatualizada, nenhum número novo para chamar de meu...

- Amiga, alto astral. Pode tomar um banho, colocar um roupinha e vamos para balada. Não existe lugar melhor para curar essa carência.

Para a Lili era na balada que tudo se resolvia. Ela costuma dizer que a noite é a cura de todos os males. E, naquela noite, ela acreditava que seria a cura do meu mal. E eu também.

Em menos de duas horas, estávamos na fila da balada mais badalada da cidade vestidas para matar.

- Diana, dá para mudar essa cara de bosta? Como você quer arrumar alguém com essa cara de velório?

- Ai, Lili, eu não tô legal. Acho que eu vou embora.

- Nada disso! – dizia Lili me puxando pelo braço – olha só quantos gatinhos! Relaxa e confia em mim.

Resolvi confiar. Entramos e logo nos encostamos no bar para beber algo. Lili foi logo pedindo a sua tradicional vodka e eu ainda olhava indecisa o que eu pediria.

- Um duplo para mim e um daqueles coquetéis especiais para gatinha aqui. – dizia o homem ao meu lado. – Se importa?

- É claro que ela não se importa – respondia Lili por mim.

- Prazer, Luis Gustavo. E qual o nome dessa princesa?

- Ela se chama Diana. – mais uma vez ela respondia para mim. Eu estava tão desanimada e desatenta que mal conseguia ver o gato que começava a me paquerar.

Ele estendeu a mão e eu continuei estática até a Lili me dar um beliscão e eu sair daquela transe.

- Ops, desculpe, é que eu não estou muito bem hoje.

- E posso saber por que uma gata linda dessas está triste?

Minha vontade era de responder que era porque ninguém me queria, que eu seria eternamente uma encalhada e que eu estava carente. Mas acho que de nada adiantaria me abrir para ele.

- Uns probleminhas, mas nada demais. Não quero estragar a sua noite.

- Estragar? Te conhecer só melhorou a minha noite.

Diante da minha carência exacerbada, resolvi ficar com o cara a noite toda e escutando aqueles xavecos baratos de balada. Eu estava precisando de uma massagem no ego né? Ficamos, demos uns beijinhos e amassos. Ele até sugeriu que eu fosse para o apartamento dele, mas não era o que eu queria.

- Como assim? Um Deus de ébano te oferece uma noite de amor e você recusa? – perguntava Lili abismada com a minha negativa enquanto voltávamos para casa.

- Vai devagar com o andor, Lili! Não é porque eu dei uns beijinhos no cara que sou obrigada a dar para ele!!!

- Depois reclama que está carente...

- E estou mesmo. E não vai ser na noite que eu vou me curar. Poxa, Lili. Estou cansada de sair, pegar um monte de caras, ouvir xavecos furados e não dar em nada. É tudo muito vazio. Me sinto uma boneca inflável! Não é isso que eu quero. Quero mais. – desabafei.

E eu realmente estava querendo mais. A noitada só tinha piorado a minha carência. Eu queria ter alguém para me envolver, alguém para dividir e somar comigo e não apenas um macho para me tirar do cio. Aquela balada só me fez perceber o quanto estava difícil encontrar um cara legal. E será que eu encontraria?

Passei o domingo bem down, assistindo filmes românticos melosos e a relembrar os bons momentos que vivi com o Pierre. Nesses momentos de carência, a gente quase sempre acaba lembrando de relacionamentos passados e a saudade começa a bater. E
sempre faço uma bobagem quando isso acontece. Foi o que eu fiz. Liguei pro Pierre.

- Oi, Diana, tudo bem? Quanto tempo!

- Pois é...liguei só para...só para...saber se você está bem. – mentira! Eu tinha ligado para implorar para ele voltar para mim ou para, pelo menos, me tirar daquela depressão afetiva profunda.

- Eu estou ótimo. E você? Fazendo o que de bom?

Adiantaria se eu dissesse que estava desesperada, carente e chororô?

- Ah, estou em casa de bobeira. Tá afim de bater um papo?

Combinamos de nos encontrar em uma hora e fomos ao bar do Pedrão beber umas cervejas. Eu apostava que aquele encontro me tiraria da carência profunda.

- Bom te ver, Di. Quais são as novidades?

- Novidades? – o que eu diria? – trabalhando bastante, saindo...

- Aposto que tá namorando também.

- Eu? Namorando? Que isso! Tô sem cabeça para isso agora. – mais uma daquelas mentiras femininas que sempre colam. Eu estava louca para namorar e ele podia ser o meu namorado né? – E você?

- Eu estou conhecendo uma pessoa aí...

Como assim? O Pierre estava com outra?

- Poxa, que legal. Espero que seja uma mulher bacana. Você merece!

Aquela revelação tinha me afundado ainda mais na minha carência. Percebi que o Pierre só me queria como amiga e que eu não mais fazia parte dos planos dele. Além disso, percebi a besteira que eu tinha feito ao sair com ele. O Pierre tinha conhecido uma garota e parecia bem empolgado com ela.

- Bê, eu não sei mais o que eu faço...até o Pierre já se arranjou. Já fui para balada, saí com o ex...estou quase me matando e essa carência não passa.

- Diana, você tem que ter paciência.

- Até quando, amiga? Será que eu nunca vou encontrar alguém que me mereça?
Adoraria que a Betina tivesse me respondido, mas era mais uma daquelas perguntas que só Deus saberia me dizer, mas até agora ele não disse. Enquanto isso, eu aguardo um sinal. Será que vai demorar demais?

PAPO DE CALCINHA: Qual é a sua receita para os momentos de carência?