segunda-feira, novembro 22, 2010

RECAÍDA


POR LETÍCIA VIDICA


'Ding dong'. Quem poderia ser àquela hora em plena quinta-feira?

- Pierre! - eu disse assustada ao vê-lo parado na minha porta e por estar trajada de pijamas de bolinhas e pantufas.

- Estava dormindo? Se quiser, volto outra hora. - ele dizia praticamente dentro do meu apartamento e ao me observar de pijamas.

- Não, que isso. Entre.

Confesso que fiquei um pouco sem jeito de recebê-lo. Parecíamos dois estranhos no ninho. É muito engraçado quando a gente reencontra o ex assim de repente. Ainda mais se o ex é quem resolve te encontrar. A gente não sabia se nos beijávamos na boca ou na bocheca. Então resolvemos nos dar um singelo abraço.

- Nossa, quanto tempo! - eu dizia na expectativa de quebrar o gelo. Afinal, o que eu diria a ele depois de tanto tempo? Fazia quase um ano que a gente tinha terminado o namoro e desde então eu não tinha tido mais noticias dele.

- Pois é...até desculpa vir assim...é que eu estava passando aqui perto e resolvi vir te ver. Saber como você está...você tá bem? - ele perguntava esfregando as mãos e com cara de quem estava suando frio porque queria me dizer algo mais.

- Fico feliz de te ver também. Eu estou bem. Na mesma...trabalhando feito uma louca lá na agência. Mas e você o que está fazendo de bom?

É engraçado como duas pessoas que até tão pouco tempo tinham tanta intimidade se tornam completos estranhos num toque de mágica. Naquele momento, as palavras me faltavam e eu também não me sentia nada a vontade de pijamas na frente dele. Uma completa besteira para quem me conhece dos pés a cabeça né? Percebi que o Pierre também estava um pouco nervoso e eu ainda não tinha entendido ao certo o motivo da visita dele.

Ficamos conversando por umas duas horas sobre o novo negócio que ele estava abrindo com um amigo, sobre suas expectativas, sua família...assuntos superficiais e banais. Até então não tinhamos questionado nada sobre a nossa intimidade.

De repente, enquanto Pierre dava um gole na cerveja que estávamos bebendo, ele ficou mudo e me olhando. Confesso que fiquei sem graça com aquele olhar e resolvi perguntar se tinha algo errado e porque ele me olhava daquela maneira.

- Estava olhando você com esse pijama e senti saudades.

- Do quê? Do pijama?

- De você.

O que eu iria dizer depois daquela declaração? Resolvi apenas escutá-lo.

- Saudades. Foi por esse motivo que eu estou aqui. Me bateu uma saudade e resolvi te procurar. E te olhando assim de pijama, me senti como nos velhos tempos quando a gente conversava até altas horas da noite e depois íamos dormir abraçadinhos.

- Pierre...

Antes que eu concluísse a minha frase, ele se levantou e literalmente me agarrou, roubando um beijo. E eu? Não fiz o menor esforço para resistir. Naquele momento, esqueci de tudo e caí nos braços dele. Confesso que eu também estava com saudades. Resumo da ópera: passamos a noite juntos. Foi maravilhoso e só acordei com o toque da campainha.

- Diana?! Acho que atrapalhei algo né? - dizia Betina com cara de assustada ao me ver nua enrolada num lençol.

Nem pude explicar porque logo atrás o Pierre apareceu de cuecas na sala.
- Ops, Betina. Desculpe.

- Que isso, gente. Eu volto outra hora.

- Não , entra. Eu já vou embora. - disse Pierre.

Ele se trocou, me beijou e prometeu me ligar depois. Enquanto isso, Betina permaneceu muda à espera de uma brecha para me crucificar.

- Pode ir me explicando tudinho, mocinha. - dizia minha curiosa amiga depois daquele flagra.

- Não é nada do que você está pensando, Bê. - eu tentava convencer a mente criativa dela que naquela altura do campeonato já tinha remontado a história na sua cabecinha e tirado suas próprias conclusões.

- Ah não? Eu flagro os dois peladões e você me diz que não é nada?

- O Pierre veio me ver ontem à noite com um papinho de que queria saber como eu estava, depois acabou confessando que estava com saudades e acabamos transando. Mas foi só isso.

- Sei, sei, dona Diana. Eu te conheço muito bem. Não aguentou e teve uma recaída né?

- Pára de besteira, Betina. Foi uma bobagem e já passou.

*********************

Teria sido apenas uma bobagem mesmo? Se fosse bobagem, aquela noite teria saído a minha mente rapidamente, mas passei o resto do dia pensando naqueles momentos. Aquele reaparecimento do Pierre parecia ter acendido algo que para mim já não existia mais. Eu, ao menos, conseguia odiá-lo por ter me dado um pé na bunda e por ter sumido.

Achei que depois daquela noite o Pierre já tinha saciado o seu desejo e não me procuraria. Engano meu. Na noite seguinte, ele me convidou para jantar e eu aceitei. Parecia que era de propósito. Ele me levou ao mesmo restaurante em que tivemos nosso primeiro encontro.

- Espero que goste do lugar. - ele dizia com tom de ironia como se soubesse o quão marcante e importante tinha sido aquele restaurante.

- Acho que você podia ter me surpreendido mais. Não esqueça que continuo exigente hein?

- E linda...e quente. Amei a nossa noite. Você não mudou em nada.

Não sabia se considerava aquilo um elogio como quem diz 'Você é muito boa e não existe ninguém melhor do que você' ou 'Nossa, pensei que você tivesse evoluído'.

Preferi acreditar na primeira opção e curtir o momento. Passamos uma noite maravilhosa com direito a vinho, fondue e mais uma noite longa e maravilhosa de amor.

E foi assim pelas nossas próximas nove semanas e meia de amor. O Pierre começou a me ligar quase todos os dias, saíamos aos finais de semana , ele voltou a dormir em casa...engatávamos um relacionamento no qual eu não sabia classificar. Rolo? Namoro? Amizade? Ou apenas uma recaída?

- E aí, amiga, vai sair? - perguntava Betina ao chegar na minha casa e me ver terminando de fazer uma escova.

- Vou almoçar na casa do Pierre.

- Tá assim já? Vocês voltaram?

- Ah, eu não sei, Betina. Faz três meses que estamos saindo de novo, mas até agora ninguém falou em namoro.

- Vai com calma, Diana. Não se envolve. Isso pode ser apenas uma recaída. Coisa comum de acontecer com qualquer casal que se reencontra depois de tanto tempo juntos.

- Será? O pior é que eu acho que já estou envolvida.

E eu realmente estava. No meu íntimo, alimentava a esperança de que a gente fosse voltar. E, naquele domingo, resolvi voltar a me envolver com a família dele também. Encarei o almoço de domingo com a sogrinha. Ou melhor, ex. Ah, sei lá, com a mãe do Pierre.

- Diana!!! Que bom te ver por aqui. Vocês voltaram? Finalmente. - perguntava a mãe dele com a excentridade de sempre.

Eu não sabia o que dizer com aquela declaração. O Pierre ficou calado e eu permaneci muda. Para mim, quem cala consente. Passamos uma tarde maravilhosa em família. Por um instante, me senti novamente um membro dela.

Quando estávamos voltando para casa, resolvi perguntar ao Pierre o que tanto me amedrontava.

- Pi, sem querer te cobrar, mas ... hoje sua mãe ao me perguntar se estávamos juntos me fez pensar...o que a gente tem afinal?

- Um lance. - dizia Pierre enquanto dirigia e sem olhar para os meus olhos.

- Um lance? E o que isso significa?

- Que temos um lance. - dizia ele me acariciando as mãos.

Aquela definição de lance foi o bastante para que eu começasse a entender que aquela relação não teria futuro. E tudo o que eu menos queria naquele momento era ter um lance com o meu ex-namorado. Acho até que o meu questionamento o assustou porque o Pierre ficou sem me procurar por quase uma semana. Mesmo sofrendo, resolvi respeitar a sua ausência e a tocar a minha vida de novo sem ele.

************

- Posso entrar? - era ele altas horas da noite no meu apartamento. Confesso que meu coração disparou e impulsivamente fui logo dando um beijo nele que retribuiu friamente. Algo estava errado.

- Aconteceu alguma coisa?

- Aconteceu. - ele dizia com cara de assustado - Diana, a gente tem que parar com isso.

- Com isso o quê?

- Com o nosso lance. Está tudo muito bom, mas eu não estou preparado para encarar um relacionamento novamente e não acho justo te enganar.

- Eu já desconfiava - eu disse com lágrimas nos olhos - mas tenho que confessar que por um momento tive a esperança de que você voltaria para mim.

- Eu adoraria voltar, mas não estou preparado.

- Talvez você nunca esteja né? Boba eu achar que você mudaria um dia.
- Me desculpe, Diana.
Ele me beijou, me deu o último abraço e saiu pela mesma porta em que entrou me dizendo que estava com saudades. Não consegui segurar, caí em prantos. Chorei feito uma criança por duas horas sem parar. Quando consegui recuperar o fôlego, liguei para Betina.

- Ele se foi, Bê. O Pierre me deixou - eu dizia ainda com a voz embargada.

- Calma, Diana. Não é surpresa para ninguém que isso aconteceria né?

- Mas eu pensei que ele podia mudar. Que a gente ficaria juntos de novo.

- Aprende uma coisa, Diana. Ninguém muda ninguém. As pessoas só mudam se elas querem. E talvez o Pierre nunca mude. Se você se envolveu com ele, devia saber disso. O que vocês tiveram foi apenas uma recaída. Normal.

- Mas e agora o que eu faço? Eu estava quieta no meu canto, aprendendo a viver sem ele. Daí ele reaparece do nada, embaralha a minha vida e agora vem com esse papo de insegurança?!

- Você vai seguir em frente, amiga. A vida continua. E você não merece um cara inseguro. Mas me promete uma coisa. Se ele aparecer aí de novo, bata a porta na cara dele. E se você não tiver coragem, me chama que eu bato.

Só a Betina para me fazer rir num momento como aquele. E bater com a porta na cara dele não foi preciso. Até porque até o momento ele não mais me procurou.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ TAMBÉM JÁ VIVEU UMA RECAÍDA?

sexta-feira, novembro 12, 2010

NA HORA H



POR LETÍCIA VIDICA

- Acho que o Pierre não me ama mais.

- De onde você tirou essa besteira, Diana? – perguntava Betina enquanto bebíamos nossa rotineira breja de sexta.

- Da nossa vida sexual. Está uma merda. Ele deu para me evitar agora. Ontem, disse que estava com dor de cabeça. Semana passada, preferiu ir ao Pacaembu do que ao motel comigo. Estou arrasada! – confessava às minhas amigas.

- Ixi, acho que você não tá dando no couro hein? – ironizava Betina.

- Nada disso. Você precisa apimentar a sua relação. – dizia minha conselheira sexual e amorosa, Lili

- Lá vem você com as suas fantasias...

- Confia em mim ou não?

Eu bem que confiava, mas o apetite sexual e a mente criativa da Lili às vezes amedrontava. Porém, dessa vez, ela até que foi um pouco sensata. Me convidou para ir a uma sex shop. Eu sempre tive curiosidade de ir a uma dessas lojas, mas morria de vergonha de ser flagrada entrando ou da recepcionista ser a filha da minha vizinha.
Combinamos o passeio a três para o dia seguinte. Era caso de vida ou morte. Eu e o Pierre sempre tivemos uma relação sexual muito ativa. Para gente nunca tinha tido hora, nem lugar, nem razão para pimbar na cachulinha, mas de uns tempos para cá tudo andava muito monótono e programado. E, o pior de tudo, é que parecia que só eu me importava.

- Tá tudo bem com você, Pi? – eu dizia acariciando os cabelos dele.

- Tá sim. – ele respondia sem manifestar nenhuma reação aos meus carinhos.

- Tem certeza? – eu acariciava o tórax dele e continuava a não demonstrar nenhuma reação.

- Ih o que é, Diana? – perguntava o brutamonte quebrando todo o clima.

- Tô te achando meio frio. Nem fica mais pertinho de mim. A gente nem transa mais...

- Lá vem você com esse papo de novo. Já disse que está tudo bem e que é coisa da sua cabeça!

- Coisa da minha cabeça? E você lembra ao menos a última vez que fizemos amor?

...

- Ah lá, nem consegue lembrar porque faz tanto, mas tanto tempo né? Aposto que você tem outra.

- Pára de besteira, Diana. Eu lá tenho tempo para isso? Não é nada. Só não sou uma máquina de fazer sexo né?

E assim seguia a nossa discussão sobre nossa vida sexual que sempre terminava em brigas, mas nunca em sexo. Nem para isso mais as brigas serviam.

Então eu tinha que tomar uma iniciativa. Resolvi me desbancar até a tal da sex shop. A Lili já foi entrando na maior naturalidade e me apresentando aos produtos enquanto eu tentava me esconder atrás da bolsa e por entre as prateleiras. A Betina também pareceu familiarizada com o ambiente e resolveu ver as novidades em vibradores, seus velhos amigos.

- Olha só isso aqui, Diana. É uma loucura!

- Fala baixo, Lili. Alguém pode ouvir.

- Qual é, Diana? A gente está numa sex shop e não na igreja. Acho bom você relaxar se não desse jeito não vai dar certo.

Ficamos por umas duas horas na loja. A Lili me explicava quase tudo. Para quê servia, como usar, dava dicas etc etc etc. Saí de lá com uma sacola regada de fantasias, gel, máscara, acessórios, joguinhos eróticos. Uma bela compra sexual.
Liguei para o Pierre e pedi que ele passasse em casa mais tarde que eu tinha uma surpresa. Preparei um jantar gostoso à luz de velas, coloquei uma musiquinha especial, joguei pétalas de rosas pela casa, perfumei com incenso e vesti a tal fantasia de empregada.

A campainha tocou, meu coração disparou e abri a porta. O Pierre me olhou assustado e ao invés de começar a me beijar ferozmente, começou a rir.

- Não estou entendendo qual é a graça! – eu disse furiosa.

- Nada, amoré, você tá uma gatinha...mas é que eu lembrei...

- Do quê?

- Deixa para lá.

Resultado: me senti uma ridícula, desmanchei tudo, mandei o Pierre para casa e fiquei sem sexo.

- E aí, amiga, como foi a noite de amor? – perguntava Lili ao telefone logo cedo.

- Não teve noite de amor. Acredita que o Pierre riu de mim? Que idiota que eu sou!

- Não vamos desistir dessa batalha, amiga.

- Como não?

- Tenho uma idéia ótima. Que tal um passeio a quatro no sábado?

- Faço tudo para voltar a transar

Sem saber o que a Lili aprontava, convidei o Pierre para sair junto com ela e o Luis Otávio. A necessidade era tanta que eu me submeti a passar a noite ao lado daquele babaca.

- Chegamos! – dizia Lili toda empolgada enquanto parávamos o carro em frente ao um local que mais parecia um bar.

- Posso saber onde a gente está? – perguntava Pierre desconfiado.

- No paraíso, meu amigo, vamos entrar que você não vai se arrepender. – diz Luis Otávio dando tapinhas nas costas de Pierre e parecia familiarizado com o local.

Desconfiados, fomos adentrando o ambiente, sentamos em uma mesa que estava reservada, pedimos umas bebidas e fui percebendo a chegada de vários outros casais. Até aí, tudo bem. De repente, a recepcionista nos perguntou:

- Vocês vão participar?

- Claro! – respondia Lili empolgada.

- Do quê? – perguntei.

- Da sessão de swing. – dizia a recepcionista como quem diz que vamos cantar no karaokê, com a maior naturalidade.

O Pierre me olhou fuzilando e eu fuzilei a Lili. Nós estávamos numa casa de swing.

- COMO ASSIM SWING? – berrou o Pierre.

- Calma, Pierre. – tentei amenizar a situação.

O que era para ser pura diversão - se é que eu conseguiria me divertir - virou um porre. Enquanto a Lili e o Luis Otávio se esbaldavam com a galera, eu e o Pierre assistíamos a tudo sem o menor clima e sem ao menos nos tocarmos. Pouco tempo depois, levantamos e fomos embora.

Pierre foi o tempo inteiro calado e só resolveu falar quando parou o carro na frente da minha casa

- Acho que hoje você foi longe demais com isso né?

- Pierre, eu sabia o tanto quanto você. Nada. A Lili só me convidou para sair.

- Então quer dizer que suas amigas estão com piedade da gente? O que elas tem a ver com a minha vida sexual?

- Com a nossa, você quer dizer né? Eu me abro com elas sim! Confesso que não esperava isso dela, mas o que tem? Podia ao menos ter te animado né?

- E ficar transando com a minha namorada na frente dos outros? Você enlouqueceu né?

- Realmente, eu enlouqueci, Pierre. Enlouqueci porque quero que meu namorado me deseje, só isso! Mas acho que é pedir muito para você né?

Desci do carro, bati a porta com força e deixei ele falando. Subi para o meu apartamento batendo as tamancas. Para minha alegria ou tristeza, o Pierre subiu atrás de mim e, assim que eu abri a porta, ele me agarrou, me beijou com vontade e o resto você já sabe né? Lererê a noite toda. Finalmente, ele cedeu. Passamos o final de semana trancados no meu apartamento colocando a conversa em dia.

***

- E aí, Diana, resolveu o problema?

- Ai, Lili, você é uma figura. O Pierre odiou a surpresa, mas graças a sua idéia ele se redimiu e nos amamos novamente.

- Pelo menos, funcionou né? O bichinho acordou.

- Pois é, mas pelo amor de Deus, da próxima vez não inventa mais nada não ok? Deixa que eu me viro

- Tudo bem, eu só quis ajudar.

Até o momento, a chama ainda não baixou, mas quando vejo que ela está ficando morna dou meu jeitinho. Claro, sem bancar a empregada e nem muito menos querer encarar swing.

PAPO DE CALCINHA: E você já teve que usar alguma artimanha para reacender a chama? Qual foi a sua? Deu certo?

sexta-feira, novembro 05, 2010

PAIXÃO ANTIGA


Por Letícia Vidica

- Peticooooo?!

Fiquei pasma com aquela voz feminina que gritava o nome do meu namorado no meio do restaurante com tanta intimidade. E mais pasma ainda ao ver o abraço caloroso trocado entre os dois. E eu assisti de camarote àquela cena patética até os dois se tocarem da minha presença.

- Ah, Di, essa é a Valéria. – me apresentava Pierre ao relembrar que eu estava ali, estática e pasma.

- Então, você é a famosa Diana? – disse a tal da Valéria ao me cumprimentar com dois beijinhos no rosto.

Se não bastasse o encontro caloroso, os dois ficaram mais uns cinco minutos filosofando sobre a vida um do outro. Como você está, como você mudou e mais outros blábláblás até o meu ataque de tosse. Cof, cof.

- Senta’í com a gente. – oferecia o educado do meu namorado.

- Não, que isso. Eu não quero incomodar. – dizia Valéria ao perceber minha cara de poucos amigos.

- Mas a gente já pediu o prato...para DOIS...lembra, Pierre?! – relembrei de que se tratava de um jantar a sós.

- Sempre tem espaço para mais um. – insistia Pierre.

Valéria disse que estava esperando uma amiga e, que se ela topasse, se juntaria a nós.

Enquanto isso, rezei para ela não topar.

- Valéria?! Espera’í , Pierre, essa daí não é...

- A Val, minha ex-noiva. – disse ele na maior tranqüilidade.

- Como assim? E você fala nessa calma? E ainda a convida para jantar com a gente? Você pirou né?

- Quem tá pirando é você, Di. Não tem mais nada a ver. A gente já se separou há muito tempo. E outra quem vive de passado é museu, hein!

Antes que eu pudesse retrucar, a tal da Val retornou para a nossa mesa. Para o meu azar, a tal amiga tinha ligado dizendo que não poderia vir. Sendo assim, tive que engolir a ex-noiva na mesa do nosso jantar. Tudo bem se a sessão flashback não tivesse começado.

- Como está a sua mãe, Pe? A mãe dele é adorável né? Ela já fez para você aquele bolo de abacaxi cremoso? Hmmm...uma delícia! Eu adorava.

Bolo de abacaxi? Cremoso? Mas eu nem sabia que ela cozinhava! Quando vou lá é um tal de congelado para cá e para lá?

- E o Petico continua com aquela superstição boba de assistir ao jogo do Corinthians comendo pipoca doce com batata Ruffles? – ria a tal da Val ao relembrar detalhes tão pequenos dos dois.

E assim a noite seguiu. Regada de muitas intimidades reveladas. Algumas que eu desconhecia e outras que só me provavam o quão profunda tinha sido aquela relação. Ainda para ajudar, a bonitona estava sem carro. Daí, o Pierre prestou a solidariedade de deixá-la em casa. Eu, claro, fui o caminho todo muda e com uma tromba de elefante.

- Posso saber o motivo dessa tromba? – perguntou Pierre na porta do meu prédio enquanto tentava me dar um abraço em vão – Já sei. Não vai dizer que ficou com ciúmes da Val né?

- Eu? Ciúmes? Da Val? Que bobagem! – respondi com ironia.

- Então o que é? A comida não estava boa?

- Pierre, meu amor, tem coisas que a gente não precisa responder. Tenha uma boa noite...Petico! – desci do carro e bati a porta o mais forte que pude.

***

Depois de uma semana martelando aquele reencontro, só mesmo uma cerveja gelada no bar do Pedrão com minhas amigas para aliviar a minha tensão.

- Gente, eu me rendo. Como diz Capitão Nascimento, vou pedir para sair. Estou sendo eliminada do BBB. – eu lamentava.

- Do que você tá falando, Di? Qual é o problema agora?

- O problema, Betina, é que a ex-noiva do Pierre ressurgiu das cinzas. Encontramos com ela num restaurante na semana passada e o Pierre teve a pachorra de convidá-la para jantar com a gente. Você acredita? E os dois ainda passaram a noite toda de tititis...

- Ué, mas não é ex? Para quê o estresse? – questionava Betina.

- Muito simples para você que é desencanada né? Como é que eu vou competir com uma mulher que passou oito anos ao lado do meu namorado? A gente só tá junto há um ano e meio e eu nem sabia que a mãe dele cozinhava!!! Você acredita que ela fazia bolo de abacaxi cremoso para tal norinha? A broaca só me dá lasanha congelada!!!

- Mas ela é bonita, Di? – aguçava Lili.

- Ah...é ... é...ela é bem bonitona. Toda cheia de classe. Advogada, bem-sucedida... aposto que o Pierre vai terminar comigo.

- Não exagera, Diana, vai entregar o ouro assim? – incentivava Lili – Ela até pode ser tudo isso, mas é você que está com ele, meu bem.

- Dessa vez, tenho que concordar com a Lili. – dizia Betina.

Por mais conselhos e incentivos que minhas amigas tentassem me dar, nada me tirava aquilo da cabeça. O medo de perder o Pierre para a tal da Valéria me atormentava. E me atormentava mais ainda porque Tim Maia estava certo. Paixão antiga sempre mexe com a gente

Pouco tempo depois que eu conheci o Pierre, eu reencontrei certa vez um antigo affair. O Mauro. A gente tinha ficado juntos um ano, mas foi uma paixão arrebatadora, um amor louco. Praticamente como nove semanas e meia de amor. Mas na ferocidade que veio, foi.

Nos reencontramos num domingo no Parque Villa Lobos. Eu estava lendo um livro embaixo de uma árvore para desestressar e ele corria por lá. Nos surpreendemos com o encontro, fomos almoçar e o Mauro voltou a me ligar.

Naquela época, cheguei até a ficar um pouco balançada. Ele me propôs que voltássemos, tentou me encontrar mais intimamente, mas eu sempre neguei. Mas, confesso, que fiquei bem balançada com aquela situação.

E agora? Será que o Pierre não sentia o mesmo? E se ele resolvesse voltar com a Valéria?

- Sabe quem ligou aqui em casa ontem,filho? A Valéria! Disse que encontrou vocês né? – comentava minha querida sogra durante um almoço familiar regado de lasanha congelada.

- Inclusive, ela comentou que a senhora faz um bolo de abacaxi cremoso de dar água na boca. – alfinetei.

- Nossa, ela lembrou do bolo? Faz tanto tempo que nem lembro mais a receita. – saiu pela culatra.

**

- Di, desde aquele dia do jantar você está diferente. O que está acontecendo? – perguntava Pierre logo após o almoço.

- Nada, Pierre. – eu estava tão irritada que ia ser pior explicar.

- É a Valéria né? Eu sei. Pode falar.

- Se sabe então porque pergunta?

Antes que ele respondesse, a campainha tocou e, para minha indigestão, era a tal da Valéria. A moça resolveu fazer uma visitinha surpresa para a ex-sogrinha que a recebeu de beijinhos e abraços. E só não fez o tal do bolo porque, segundo ela, a visita foi surpresa, mas se tivesse avisado...Ué, será que ela lembrou da receita tão rápido?!

Aquela visita tinha sido o fim da picada. O cúmulo da intimidade. Para não piorar o clima, resolvi ir embora. O Pierre ainda insistiu que eu ficasse, mas inventei uma enxaqueca e fui para casa. Acho que o casal de pombinhos precisava de mais um tempo à sós. Melhor seria me retirar da história de amor.

Claro que fui aos prantos para a casa da Betina que me atendeu assustada. Depois de três copos de água com açúcar, consegui explicar a história para ela.

- Diana, para de ser infantil. Com quem o Pierre está namorando? Se eles terminaram é porque já era mesmo. Para de criar historinhas na sua cabeça.

- Mas, Bê, é páreo duro. Foram oito anos! – eu respondia com os olhos aionda marejados.

- E daí? Foram. Não são mais. Pode tratar de engolir esse choro, colocar uma maquiagem e ir buscar o seu príncipe. – ordenava Betina.

Antes que eu pudesse dar um tapa no visu, a campainha tocou e me assustei ao ver o Pierre parado na porta.

- Como você sabia que eu estava aqui? – disse assustada e enxugando as últimas lágrimas que insistiam em cair dos meus olhos.

- Não foi nada difícil adivinhar. Podemos conversar?

- Gentem, fiquem à vontade, eu estou lá no quarto ok? Qualquer coisa, gritem. – disse Betina nos deixando à sós.

- EU não consigo, Pierre... – diz cabisbaixa com medo de encará-lo nos olhos.

- Não consegue o quê? – perguntava ele com cara de quem não estava entendendo o drama.

- Disputar com essa tal Valéria. É um páreo muito duro. Vocês ficaram juntos por oito anos...ela sabe tudo de você...!!!

- Realmente, Diana, nós ficamos juntos todo esse tempo aí. Quase casamos. Mas acabou. E você sabe muito bem disso. Agora, eu estou com você. É de você que eu gosto. A Valéria já era.

- Mas vocês ainda parecem tão íntimos! E a visita inesperada dela na sua casa?
- Eu nem ia te contar, mas já que chegamos a esse ponto. Há um tempo, ela vem me procurando. Diz que quer voltar. Anda me perseguindo...

- COMO ASSIM??? E VOCÊ NÃO IA ME FALAR NADA?????? – berrei.

- Calma. Hoje foi a gota d’água. Nós conversamos e eu pedi para ela se afastar da minha vida. Eu disse a ela que exijo respeito a você. E que a mulher que ocupa meu coração agora se chama DI-A-NA. Conhece?

Nos olhamos e me joguei como uma criança carente nos braços dele. Daí então, percebi a boba que fui. Parecia adolescente insegura. Os braços do Pierre me reconfortaram e me senti tão importante quanto Michele Obama se sente por ser a primeira-dama dos EUA.

Nem sei e nem quis saber mais da tal da Valéria, mas aprendi que, por mais difícil que seja, quem vive de passado é museu. E me desculpe, Tim, mas paixão antiga nem sempre mexe com a gente.

PAPO DE CALCINHA: Alguma paixão antiga sua ou de algum (a) namorado(a) já mexeu com você?