quinta-feira, agosto 19, 2010

OU ELA OU EU


Por Letícia Vidica

Nunca faça essa pergunta a um homem comprometido. Ainda mais se você estiver com ele, mas não for o compromisso dele. Apesar de saber disso, ter lido milhões de livros de auto-ajuda feminina, eu me esqueci de tudo naquele momento e foi o que perguntei ao Alan naquela noite fria de quinta-feira no sofá do meu apartamento.

- Ou ela ou eu. Não agüento mais essa situação. Você tem que decidir.

Antes que eu diga o que ele me respondeu, vou explicar a vocês quem é o Alan.

Por mais que eu saiba o fim da história, eu insisto em cometer algumas burrices mais de uma vez e uma delas é se me envolver com homens comprometidos. É problema na certa, mas parece que eles exalam um cheiro mais gostoso sabe?

O Alan trabalha comigo. Ele é do departamento financeiro. Eu nunca tinha achado a menor graça nele. Para mim, era apenas mais um homem comprometido da minha empresa. Compromisso que o brilho da sua aliança não deixava que eu esquecesse.

Num desses happy hours lá da agência, depois de muito beber, comer frango a passarinho e falar mal do chefe, lembrei que estava tarde e que meu carro estava na mecânica. Educadamente, aceitei uma carona do Alan. Não vi nenhum problema nisso já que ele morava a duas quadras da minha casa.

- Nossa, a hora passou e eu nem vi. Duas da manhã já. Sua namorada não reclama não? – eu perguntava enquanto ele me levava para casa.

- Ela não liga muito não. Acho que já se acostumou.

- Aposto que ela já deve ter te ligado mil vezes...

- Ela não é de pegar muito no pé não. Sou um bom homem. – ele disse com sorriso irônico e lançando um olhar 43 para mim.

Fiquei um pouco nervosa e preferi encerrar o assunto, mas ele insistiu.

- Você não acha que eu sou um bom moço?

- Ah, não sei. Eu mal te conheço, Alan. – desbaratinei.

- Não conhece porque não quer. – mais uma vez, ele me olhou ao estilo 43.

Por sorte ou azar, o carro parou na frente do prédio.

- Obrigada pela carona.

- Vai descer assim? Não mereço nada pelo sacrifício?

- Alan, vai para casa que teu problema é cachaça. Sua mulher deve estar te esperando... para de bobagem!

- Quem disse que é bobagem? Eu não sou homem de brincadeira.

Ele me puxou pelo braço e me roubou um beijo. A minha primeira vontade era de ter virado um tapa na cara dele, mas logo mudei de idéia ao sentir melhor o sabor daquele beijo e provar da pegada que ele tinha. Quem diria hein, Alan?


***

- Você não aprende não, Diana? Outro cara comprometido? –preciso dizer que a Betina estava me recriminando?

- Bê, foi ele quem me beijou. Eu ia fazer o quê?

- Eu só espero que você pare por aí porque a senhorita bem sabe o fim da história né?

- Pois é.Vamos sair hoje.

- O QUÊ???? – berrou Betina indignada com a minha aceitação.

Depois daquele beijo, não conseguia mais olhar para o Alan na empresa. E quando eu olhava, era um olhar diferente. Parecia que da noite pro dia ele tinha ficado mais interessante.

Eu tentava evitá-lo ao máximo para que ninguém percebesse, mas ele me procurava insistentemente. Me mandava milhões de emails pedindo para sair comigo, pedindo meu telefone, ficava me paquerando na hora do almoço...gente, eu sou de carne e osso né? Uma hora eu ia ter que ceder. E cedi.

E lá estava eu bebendo uma cerveja num bar qualquer com o Alan, o homem compromisso. Mas era apenas uma saída de amigos ou, pelo menos, era o que tinha que ter sido.

- Eu não sei o que eu estou fazendo aqui com você, Alan! – eu disse tentando dar uma de durona. – Quero deixar bem claro que eu só saí com você por que... por que...

- Porque você está tão afim de mim quanto eu de você. – dizia o Alan se gabando do seu poder sedutor – Pára de bancar a durona, Diana. Vamos curtir o momento.

- Não é uma questão de ser durona. E o que eu faço com essa aliança no seu dedo? Você namora!!!

Descobri que ele não só namorava há quatro anos, como tinha planos de se casar com ela. Eu não podia amarrar o meu burro ali, mas, infelizmente, eu amarrei.

Aquela foi apenas a primeira de muitas outras saídas que tivemos. De um rolo casual, eu me transformei literalmente na outra. Ele passava mais tempo no meu apartamento do que na casa da namorada. Isso fazia até com que eu pensasse que ela era amante e eu a namorada. Mas sempre caía na real quando falávamos sobre nossa relação.

- Você vai me enrolar até quando hein, Alan? – perguntava enquanto acariciava seus sedosos cabelos deitados no meu colo.

- Como assim enrolar? Eu não estou aqui todinho para você, minha flor?– disse me roubando um beijo que sempre me derretia.

- Você sempre diz isso, Alan. Eu falo sério. Estou cansada de ouvir suas promessas de que vai largar sua namorada, de que o relacionamento não está legal, mas você nunca cumpre...

- Eu não te prometi que vou terminar? Confia em mim, gata.

O pior é que eu sempre confiava e assim ele ia me enrolando. Já eram quase seis meses de enrolação. E a cada dia eu estava mais e mais apaixonada por ele. A única coisa que me crucificava era o fato dele não ser só meu. Era pensar que ele beijava a boca dela, que ele dizia que a amava, que ele estava com ela quando não estava comigo...

- Aposto que o Alan está na casa daquela piranha – eu dizia andando de um lado ao outro da minha sala aguardando ansiosa por uma ligação dele – Ele disse que ia aparecer!

- Diana, calma. Você está careca de saber como é. Se você se sujeitou a ser a outra então agüenta... – falava Betina tentando me trazer à realidade.

- Ai, Be, estou cansada de tudo isso. Estou cansada das promessas do Alan. Já faz seis meses que estamos juntos e até agora ele só fala e nunca termina com ela.

- Diana, pára de ser adolescente. Parece até que você não sabe que um homem dificilmente vai trocar um relacionamento de anos por uma aventura de seis meses.

- Mas ele prometeu, Be!

- E você vai acreditar?

Aquela era a resposta que eu não tinha com muita certeza. Eu não acreditava nas promessas do Alan sobre sua separação, mas eu me enganava fingindo acreditar só para não perdê-lo. Isso me condenava. O tormento era tanto que eu acabei resolvendo dar um xeque mate.


Numa quinta-feira quando o Alan foi para a minha casa depois do trabalho...

- O que houve, gata...está tão fria...vem aqui para um chamego.

- Hoje não tem chamego, Alan. Hoje tem DR. Ou ela ou eu. Não agüento mais essa situação. Você tem que decidir.

- Como assim? – perguntou com cara de assustado.

- Como assim, digo eu. Faz seis meses que estamos juntos e é sempre a mesma história. Vai terminar, terminar e nada. Vai me enrolar até quando? Chega! Ou ela ou eu.

- Diana, eu não posso tomar uma decisão assim. Eu já te disse que eu vou acabar.

- Disse e não fez. Então, por favor, até você se decidir não me procure mais.

E foi assim que o Alan saiu por aquela porta e saiu da minha vida. Eu confesso que tinha esperanças de que ele retornasse, de que ele terminasse o relacionamento com a namorada, mas não foi o que aconteceu. Ele não era homem suficiente para arriscar. Sofri muito, mas resolvi seguir em frente.

Depois do nosso fim, a nossa relação ficou um pouco abalada. Quase nem nos olhávamos no trabalho. Acho que a gente se evitava não por ódio, mas por medo da chama se acender novamente.

Até que um dia, cheguei na agência e o pessoal estava fazendo uma comemoração.

- Nossa o que houve? Ganhamos um novo cliente? – perguntei sem saber de nada.

- Não, Di. O Alan vai ser papai! – dizia a secretária.

Fiquei tonta, engoli o choro e tentei disfarçar o máximo que pude. Estendi minhas mãos para as dele e dei os parabéns. Ali encerrava a nossa história. Se eu tinha alguma esperança em que ele mudasse de idéia e optasse por mim, ela tinha morrido ali mesmo.

- Desculpe não ter te falado nada... sei que é chato você saber assim de repente – dizia Alan cabisbaixo no fumódromo da agência.

- Você não tem que se desculpar. Você fez uma escolha.

- Foi você quem escolheu Diana. Eu não queria terminar com você.

- E também não queria terminar com ela. Assuma que você nunca teria coragem de jogar tudo pro alto e ficar comigo né? É muito mais fácil ir levando no banho maria.

- Eu estava confuso.

- Todo homem quando não sabe o que quer fala que está confuso. Mas eu estava bem decidida. Se você não me quer, tem quem queira. Seja feliz com a sua namorada e com o seu filho ok?

- Diana, Diana... volta aqui!

Dei as costas para não ter que ouvir o mesmo repertório e para não cair na mesma ladainha. Eu ainda estava bem envolvida com ele, mas não dava mais para fazê-lo optar. Aquela gravidez era a opção maior. Prometi a mim mesma que não mais me envolveria com homens comprometidos ou, pelo menos, não ousaria mais perguntar “Ou ela ou eu”.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ DEU UM XEQUE-MATE EM ALGUM HOMEM COMPROMETIDO E SE DEU MAL? SE VOCÊ FOI A ESCOLHIDA, CONTE A FÓRMULA DE SUCESSO PARA GENTE.

terça-feira, agosto 10, 2010

GAROTO CHICLETE


Por Letícia Vidica

- Oi, coração! Bom dia! Te liguei só para saber se minha bonequinha dormiu bem.

É, isso mesmo que você está pensando. A "coração" e a "bonequinha" do outro lado da linha era eu.

- Oi, Gustavo, tudo bem? Eu estou ótima sim. Nas últimas duas horas que você me deixou sozinha, nada aconteceu. Pode ficar bem tranqüilo.

Fazia menos de duas horas que o Gustavo tinha deixado o meu apartamento. A cama mal esfriara e ele já estava me ligando para dizer que estava morrendo de saudades. Nem me assustei porque isso fazia parte de um ritual que eu estava tentando me acostumar.

Eu conheci o Gustavo numa festa de aniversário de uma amiga de trabalho. Conversamos um pouco, dividimos algumas latas de cerveja e tragadas de cigarro, ele me ofereceu uma carona, eu aceitei, trocamos telefones, saímos uma vez, ficamos e ele não larga mais do meu pé.

Não que ele seja um cara desinteressante, mas o problema é que o Gustavo é do tipo meloso. O típico Garoto Chiclete. Um grude na minha vida. Me liga de manhã para dizer "bom dia", de tarde "para dizer boa tarde" e de noite "para dizer boa noite". Se não bastasse isso, ainda aparece de surpresa quase todos os dias lá em casa e tem uma preocupação excessiva comigo. Sem contar que fica me chamando de nomes no diminutivo de forma babaca e idiota. É coraçãozinho para cá, lindinha para lá e assim vai.

- E porque você não dá um pé na bunda dele, Diana?

- Ai, Be, eu não sei. Ainda tenho esperança de que ele vai mudar. Ele é um cara legal, beija bem, faz amor gostoso, o que me irrita é essa pegação no meu pé.

- Falando no chicletinho, olha ele vindo aí...

Ao olhar para trás, me deparei com Gustavo entrando pela porta principal do bar do Pedrão. Eu confesso que tinha odiado a surpresa. Eu havia dito para ele que eu ia sair com as meninas.

- Oi, gatinha. Gostou da surpresa? - dizia Gustavo me dando um beijo na mão, outro na minha testa e sentando já agarrado ao meu lado - Desculpa atrapalhar, Betina, mas eu não consigo ficar mais de um minuto longe do meu coraçãozinho.

- Que isso, fica à vontade! - dizia Betina tomando um gole de chope para conter o riso.

Ficamos por cerca de uma hora jogando conversa fora, mas eu já estava me sentindo sufocada com aquele cuidado todo, aquelas babações para cima de mim e resolvi fingir que estava cansada e que queria ir para casa.

- Ah, docinho, tá cansadinha tá? Eu te levo para casa - dizia Gustavo alisando a mão em meu rosto e praticamente me pegando no colo.

Tentei convencê-lo de que a Betina poderia me levar para casa, que eu não queria tirá-lo do caminho, mas não adiantou. Ele insistiu em me levar para casa.

Chegando à porta do meu prédio, dei um beijo nele e fui saindo do carro, mas ele me puxou pelo braço e me beijou novamente.

- Não consigo ficar um minuto sem beijar essa boquinha linda, sabia?

Mal ele sabia que estava odiando aquela beijação toda.

- Não vai me deixar subir, gatinha? Adoraria fazer uma massagenzinha nos seus pezinhos.

- Me desculpe, Gu, estou morrendo de dor de cabeça.

- Ai, meu neném tá dodói tá? – dizia me apertando a bochecha da maneira que eu mais odiava – mas tudo bem! Vou deixar meu coraçãozinho nanar e amanhã cedinho estou aqui.

- Gu, não precisa vir cedo não. Eu vou ao shopping amanhã. Preciso fazer umas comprinhas. – eu disse com a esperança de que ele desistisse.

Inútil tentativa a minha. No dia seguinte, praticamente antes do sol raiar, Gustavo já estava de prontidão na minha casa.

- Não acredito que o Gustavo vai fazer compras com a gente! – questionava Lili enquanto eu pegava a minha bolsa.

- Eu tentei de tudo, amiga. Mas ele não se tocou. O negócio é encarar agora.

E lá fomos nós três fazer compras no shopping. Eu nunca imaginei o quão era horrível ir às compras acompanhada e pior ainda era ir acompanhada de alguém que te tratava como um poodle e opinava em tudo que você queria comprar. Se não bastasse escolher até o seu absorvente.

- Adorei essa calcinha, amore. Acho que você devia comprar. – dizia Gustavo enquanto escolhia calcinhas e soutiens para mim.

Na tentativa de tentar acabar logo com aquele martírio, reduzi as minhas habituais quatro horas de compras no shopping a uma hora e meia.

- Gu, se você quiser, pode ir para casa agora. Amei a sua companhia, mas eu e a Lili temos hora marcada no salão do Beto.

- Faço questão de acompanhar as damas, amorzinho.

- Não precisa se incomodar, Gustavo – dizia Lili com olhos suplicantes para mim como quem pede socorro.

E não adiantou de nada suplicar. Ele nos levou até o salão de cabeleireiro e ficou sentadinho esperando a gente fazer unhas, depilação, escova, hidratação. Detalhe: tirando o Beto, que é meio homem, ele era o único naquele ambiente.

- Meninas, quem é aquele bonitão ali? – perguntava o meu cabeleireiro enquanto fazia uma chapinha no meu cabelo.

- Ih, Beto, pode tirar o olho que aquele ali é o novo peguete da Diana – respondia ironicamente Lili enquanto esperava secar as unhas.

- Chiclete, você quer dizer né, Lili?

- Ih, pelo jeito, a coisa tá feia hein? Achei o máximo o bonitão ficar te esperando. Que romântico!

- Não vejo nada de romântico nisso, Beto. Desde que a gente começou a sair, eu não consigo mais respirar. Não tenho um minuto de paz. Se eu espirro, ele diz saúde! – desabafava.

Passamos o restante do dia a falar sobre a melação do Gustavo e mesmo com a demora rotineira de um salão de belezas, o Gu não arredou o pé.

- Nossa, como o meu coração está uma gata! – elogiava o resultado da espera.

- Te fiz esperar demais né? Você deve estar cansado. Não quer ir para casa tomar um banho?

- Na sua ou na minha?

Mais uma tentativa em vão na esperança de eliminar o Gustavo do meu dia. Ele não só tomou banho na minha casa, como preparou um jantarzinho para nós dois, fez massagens nos meus pés e me fez ninar. Tudo perfeito se eu não estivesse de saco cheio de tanta perfeição.

- Eu não agüento mais, Betina! – desabafava no telefone com a minha amiga num valioso minuto de paz.

- Dá um pé na bunda dele.

- Se fosse tão fácil, eu já teria dado. O Gustavo não me deixa pensar, não me deixa respirar...agora mesmo...aproveitei que ele foi na padaria e liguei para você.

- Acho que isso já passou dos limites né? Ele já é bem crescidinho para entender que a coraçãozinho dele não tá mais afim.

- E você ainda consegue ironizar?

Minha amiga estava certa. Eu ia ter que driblar todo aquele mel e dizer com minha amargura de que não dava mais. Foi o que tentei durante todo aquele dia, mas os carinhos e as lambeções do Gustavo não me deixavam falar. No fim do dia, quando finalmente ele resolveu ir para casa dele, eu disse.

- Não precisa mais voltar, Gu. – pronto, falei.

- Como assim, coraçãozinho? – perguntava com olhos tristonhos.

- Pelo amor de Deus, não me chama de coraçãozinho. Eu não sou o seu coraçãozinho.

- O problema é esse? Tudo bem, gatinha, eu não te chamo mais assim.

- O problema não É só esse! Você me sufoca, Gustavo. Eu adoro ser mimada sim, mas toda hora tá difícil. Você não me deixa respirar. Desde que você entrou na minha vida, eu não sei o que é ter um minuto de privacidade.

- Me desculpa, co...digo, Diana. Eu só queria te fazer feliz.

- Eu agradeço, mas eu jamais serei feliz assim.

Gustavo me olhou com olhos de cão tristonho – confesso que fiquei com dó dele e me senti uma bruxa – mas era necessário. Se eu não fosse dura, jamais ele iria entender.

E ele realmente demorou a entender. Resolveu mandar flores, bombons e ursos de pelúcia para reconciliar. Mais uma prova de que se eu perdoasse, a melação continuaria. Resolvi ignorar os presentes e as ligações insistentes. E resolvi também que não quero mais saber de chiclete na minha vida. Se for Bubballoo então, estou saindo fora.

PAPO DE CALCINHA: VOCÊ JÁ SE RELACIONOU COM ALGUM HOMEM GRUDENTO? COMO FEZ PARA QUE ELE SAÍSSE DO SEU PÉ?

domingo, agosto 01, 2010

PACTO DE BUBALOO


Por Letícia Vidica


Depois da minha família, as minhas amigas são a coisa mais importante da minha vida. Eu nunca fui de ter muitas amigas, mas as poucas amizades que conquistei sempre foram muito profundas.

Amigo para mim tem que ser alguém que me dê lealdade, que ofereça o ombro para chorar, que puxe a orelha nos momentos que eu estiver errada, que ria comigo, chore comigo, lute comigo e que eu possa sempre contar. Graças a Deus, encontrei isso nas minhas amigonas do peito Lili e Betina.

Quem olha a primeira vista pode até achar que somos como água e óleo. Não se misturam e jamais daria certo. Porém, uma completa a outra. O que uma não tem, a outra oferece.

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A Betina é a mais realista do trio. Talvez por ser mais velha do que eu e a Lili, é aquela amiga meio mãe. Sempre tem uma palavra dura e uma bronca para nos dar, mas por incrível que pareça a gente sempre reflete depois.

No começo foi um pouco difícil me acostumar a esse jeito general dela, mas a Betina em muitos momentos é quem me coloca nos eixos e me traz à realidade.

Ela é dona do próprio nariz e do próprio negócio. Minha amiga é advogada e tem seu próprio escritório de advocacia. É super bem resolvida com a vida e consigo mesma. Ao contrário de mim e da Lili, homem não faz parte de seus planos. Cansada de sofrer por eles, Betina simplesmente resolveu (praticamente) abolí-los da sua vida. Com exceção àqueles momentos em que o corpo fala mais alto e o vibrador não resolve.

Conheci a Betina num happy hour da minha agência. Ela era advogada de um dos clientes de lá e acabou fazendo amizade com a galera e nos apresentando o bar do Pedrão. À primeira vista,nosso santo não bateu.

- Que cara é essa, Diana? - perguntava Paula, uma colega de trabalho, enquanto todos riam na mesa do bar.

- Tô meio para baixo mesmo.

- Aposto que tem homem no meio. Mulher quando fica assim. Ou levou um pé na bunda ou ... - palpitava a intrometida da Betina, já dando sinais de sua realidade ríspida.

Naquele momento, fiquei muito puta com ela. Quem ela pensava que era para ir me julgando daquela maneira?

- Agradeço o seu palpite, Belina. Ops, Betina, né? Esse é o seu nome né? Mas não tem nada a ver com homens ok? - disse com faísca nos olhos.

O clima ficou meio chato depois disso e eu resolvi ficar quieta o resto da noite para não pular no pescoço daquela intrometida. Fiquei com mais raiva ainda porque ela me parecia uma mulher segura de si, totalmenre ao contrário do meu poço de insegurança. Todos ouviam atentamente suas histórias, seus conselhos e ela sempre parecia ter uma resposta afiada na ponta da língua.

No fim do happy hour, me toquei que estava sem carona para ir para casa e, quando me dirigia para pegar um táxi, Betina apareceu buzinando.

- Quer uma carona?

Eu olhei com desconfiança e, antes que eu dissesse não, ela me interrompeu.

- Pode ficar tranquila, Diana. Não vou perguntar mais nada sobre a sua vida. Inclusive, como forma de desculpas, entra'í que eu te dou uma carona.

Daquele momento em diante, a Betina não só me deu uma carona, como me deu a honra de sua amizade. Descobri que por trás daquela armadura de ferro, existe uma grande mulher. Uma mulher segura que em muitos momentos eu almejo ser. E quando não sou é para ela que eu corro atrás de colo. E lá está minha amiga, mãe, irmã pronta para me dar um conselho, quase sempre acompanhado de uma bronquinha leve ou pesada, mas amigo é para essas coisas né?

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A Lili é a emoção da relação. É a mais insegura de todas. Não consegue viver sem um homem ao lado e é capaz de tudo e de dar tudo (literalmente) para ter um macho do lado. O problema da minha amiga é que ela sempre se envolve com os caras errados. Só beija os sapos. Quase nunca os príncipes. E está sempre acreditando que vai viver um lindo romance como nos filmes de Hollywood.

Ao contrário de mim e da Betina, dinheiro não é problema para ela. Lili, ou melhor, Liliana Bittencourt nasceu em berço de ouro. Filha de um grande empresário gaúcho, ela poderia ser considerada a nova Paris Hilton se não tivesse nos conhecido antes de cair nesse poço de futilidades. Mas, mesmo tendo grana, ela é uma das pessoas mais humildes e solidárias que eu já conheci.

Lili é a mais engraçada e divertida de todas nós. Quase sempre tem uma declaração descomprometida para dar e é quem me apoia quando o assunto é homem. Baladeira nata, é ela quem não deixa o nosso espírito jovial morrer.

Pode parecer engraçado, mas conhecemos a Lili num banheiro de balada chorando aos prantos lá pelas tantas da madrugada de um sábado qualquer.

- Minha nossa, o que aconteceu, mulher? - eu perguntei ao vê-la naquele estado.

- Quer uma água? - perguntou Betina

- Eu quero sair daqui. Me tira daqui, por favor.

Mesmo sem saber nada daquela mulher desesperada, atendemos ao pedido dela e a tiramos da balada. Resolvemos levá-la ao meu apartamento e depois de muito chorar, começou a nos contar o que tinha acontecido.

- Ai, me desculpem, por esse papelão. Vocês duas só podem ser anjos. Prazer, me chamo Liliana, mas podem me chamar de Lili.

- Prazer, Lili. Mas será que agora você pode nos contar o que aconteceu? - perguntava Betina já sem paciência para tanta choradeira.

- É que eu tinha marcado um encontro com o meu namorado e ele não apareceu. Daí, resolvi sair para espairecer e o encontrei com outra mulher lá na boate.

- Sabia que tinha homem no meio. Você tinha que agradecer por ter presenciado isso. Sinal de que esse cara não presta e não serve para você.

- Betina!

- O que é, Diana? Só estou sendo realista.

- Vocês estão certas. O Luís Otávio não me merece.

Daquele dia em diante, não só passamos a conhecer e conviver com a Lili, como também com o canalha do Luís Otávio que aprontaria muitas daquelas ao longo da nossa amizade.

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E assim se vão longos anos de amizade, os quais quero preservar por muitos e muitos anos. Fazemos promessas de sermos madrinhas de casamento uma das outras (com exceção da Betina que não pensa em casar), madrinhas dos filhos uma das outras (com exceção da Betina que não quer ter filhos), entrarmos juntas para o grupo da terceira idade (com exceção da Lili, que já disse que fará quantas plásticas for preciso para rejuvenescer e se recusar a assumir que está na terceira idade).

Quase nunca ficamos mais de dois dias sem nos falar. Sempre ligamos umas às outras e mantemos a tradição da cerveja com frango à passarinho no bar do Pedrão. E, mesmo quando alguma de nós começa a namorar, longo enturmamos o companheiro ao grupo e não admitimos que ele venha podar a nossa amizade.

Brigas? Às vezes acontecem algumas, mas sempre tem alguém de prontidão a pacificar. E, geralmente, esse alguém sou eu porque a Lili e a Betina frequentemente tem arranca-rabos.

- Eu não aguento mais a Lili, Diana! Bendita hora em que fomos ser solidárias e socorrer ela naquele banheiro da balada. - dizia Betina entrando bufando no meu apartamento.

- O que aconteceu dessa vez? - eu perguntava já careca e cansada das brigas infantis das duas.

- Acredita que ela me apareceu de novo lá em casa no meio da madrugada pedindo abrigo porque brigou com o Luís Otávio? Eu não aguento mais!

- E o que ele aprontou dessa vez?

- O que você acha? O mesmo de sempre, Diana. Traição e sacanagem. Daí, eu estava tão de saco cheio que falei umas poucas e boas para ela.

Eu logo podia imaginar o que a Betina tinha dito e como a fragilidade da Lili não tinha sido capaz de aguentar.

Enquanto eu tentava acalmar a Betina, minha campainha tocou. Era a Lili.

- Oi, Diana, posso entrar?

- Claro, Lili. Se a presença da Betina não for um problema para você?

- Ah ela está aí? Eu volto outra hora. Me recuso a ficar no mesmo ambiente dessa insensível.

- Tá me chamando de quê hein, dondoca? - gritou Betina lá do sofá, irritada com a provocação.

- Meninas, por favor, barraco no meu prédio não hein? - eu dizia - acho que vocês duas são bem crescidinhas para ficarem de mal né?

- Eu não estou de mal de ninguém. Se ela não aguenta ouvir verdades, não posso fazer nada.

- O seu problema, Betina, é que você não sabe dizer verdades. Você só sabe ofender. Sempre cheia de razão, se acha no direito de humilhar as pessoas.

- Eu não preciso te humilhar, Lili. Você mesma já faz isso ao rastejar pelo Luís Otávio.

Antes que as duas se atracassem no tapete da minha sala, resolvi levantar bandeira branca.

- Chega! Meninas, hello! Vocês tem noção de que estamos brigando por causa de um homem? Betina, você que nunca deu valor a eles, agora vai perder uma amizade por um que nem vale meio centavo? E você, Lili, me desculpe, mas está mais do que na hora de acordar e perceber o mal que esse canalha te faz né?

As duas ficaram cabisbaixas feito dois pintinhos abandonados. Depois, se olharam e a Lili, como sempre, era a primeira a dar o braço a torcer.

- Desculpa, Betina. É que eu sempre me cego quando o Luís Otávio apronta comigo, mas eu sei que você só quer o meu bem. Me dá um abraço?

- Tudo bem, Lili. Eu te desculpe. Me desculpe também. Se eu falo essas coisas é para o seu bem, é porque eu gosto de você.

- Pazes feitas? Selamos o pacto de bubballo novamente?

Pazes e pactos refeitos seguíamos sempre em frente a espera da próxima briga e curtindo os bons momentos que a nossa amizade sempre nos reservava.

PAPO DE CALCINHA: E você tem amigas (os) com quem contar? Conte como se conheceram e experiências que já viveram.